O gigantesco cais flutuante construído nos EUA começou a operar em 17 de maio, mas parece ter estado fora de serviço a maior parte do tempo. O tão elogiado projeto humanitário não conseguiu substituir as rotas terrestres como forma de entregar ajuda à sitiada Faixa de Gaza em meio à guerra de Israel contra o Hamas.
"Eles simplesmente calcularam mal [...]. Eles não entenderam completamente o que iria acontecer com o clima [...]. Então o DoD [Departamento de Defesa] vai embora, de certa forma humilhado", disse o vice-presidente sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, Stephen Morrison, citado pelo The Guardian.
O projeto no valor de US$ 230 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão),concebido pelo Pentágono, se revelou excessivamente frágil para lidar com mares agitadas e, além disso, foi afetado por uma segurança deficiente. Seu próprio futuro agora está em questão.
Foram necessários mais de dois meses, 1.000 soldados dos EUA e vários navios da Marinha norte-americana para construir a instalação de Logística Conjunta Over-the-Shore (JLOTS, na sigla em inglês). Este consistia em uma doca flutuante implantada no mar e em um cais anexado à costa de Gaza. Apesar de estar operacional desde 17 de maio, o corredor marítimo só funcionou durante 12 dias. Como resultado, apenas 250 caminhões de ajuda humanitária foram entregues através do cais, que se revelou vulnerável.
A falta de segurança significava que a ajuda que chegava era despejada na praia na maior parte dos dias porque não havia caminhões para a transportar do cais para os armazéns no enclave. Os comboios encarregados de entregar a ajuda foram suspensos pelo Programa Alimentar Mundial, estando a revisão de segurança da organização internacional ainda em curso.
A estrutura flutuante foi projetada para suportar condições de "estado de mar de nível 3", ou seja, ondas de 0,5 a 1,25 metros de altura. No entanto, uma tempestade no dia 25 de maio causou sérios danos ao cais. Depois de ter sido rebocado para reparos no porto israelense de Ashdod, retomou a operação no dia 8 de junho, mas apenas um dia depois as entregas de ajuda foram suspensas por mais dois dias. O mau tempo obrigou o cais a ser desmontado novamente no dia 14 de junho.
É fácil adivinhar que mais contratempos devam ocorrer, já que a construção é muito vulnerável aos elementos.
Apesar das "pausas táticas" introduzidas por Israel para permitir a entrada de ajuda, as condições de segurança são descritas como terríveis. A passagem de Rafah a partir do Egito está fechada desde 7 de maio, quando as Forças de Defesa de Israel (FDI) lançaram a sua ofensiva em Rafah. As estradas para a passagem da fronteira de Keren Shalom, no sul de Israel, são bastante perigosas devido aos ataques das FDI ao Hamas em Gaza e aos saques por gangues.
No entanto, apesar de estar assolado por problemas, o cais marítimo foi descrito como um "canal adicional crítico para entregas de ajuda" por um funcionário dos EUA. O secretário de imprensa do Departamento de Defesa, major-general Patrick Ryder, disse que "ainda não foi estabelecida uma data final para esta missão, ao contrário de algumas reportagens da imprensa sobre o assunto".
Quando o conceito do cais foi revelado durante o discurso sobre o Estado da União de Joe Biden, em março, foi apresentado como um símbolo da grande preocupação do presidente dos EUA com a situação dos palestinos em Gaza. Como Israel restringiu a entrada de comboios de ajuda humanitária através das travessias terrestres, o cais foi concebido para ajudar a aumentar o fluxo de alimentos para o enclave sitiado. No entanto, os críticos apontaram que o projeto pretendia servir como uma espécie de "cobertura humanitária" para o apoio de Biden a Israel.