"Na verdade, a não disposição da União Europeia em participar de um processo de acordo de paz entre Rússia e Ucrânia é evidente, mesmo antes dessa decisão. Está bem claro o posicionamento antagônico entre as partes do conflito, no qual a UE, em conjunto com os Estados Unidos, se colocou como parte diretamente interessada nos desdobramentos do conflito em favor do lado ucraniano e, consequentemente, não poderiam atuar como intermediadores de um acordo", aponta o especialista.
"Assim, as recentes decisões de ordem mais drástica, como a autorização do governo Biden para a Ucrânia utilizar seus armamentos contra alvos em território russo, e agora a utilização dos rendimentos dos recursos russos congelados para os esforços de guerra da Ucrânia, me parecem […] um sinal de que estão dispostos a continuar com a guerra utilizando cada vez mais meios disponíveis e [que estão] irredutíveis quanto à possibilidade de negociação de paz nas circunstâncias atuais", argumenta.
Zelensky e a falta de autonomia para negociar a paz
Fundo de apoio à paz usado pela primeira vez para fins militares
"Os riscos não estão necessariamente na abordagem, mas no prolongamento e na escalada do conflito. Como dito, a Rússia não irá tolerar o ingresso da Ucrânia na OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], da mesma forma que os Estados Unidos não toleraram a instalação de mísseis soviéticos em Cuba, nos anos 1960, no evento conhecido como Crise dos Mísseis […]. Trata-se de uma questão de segurança nacional: isso uma grande potência não negocia. Desse modo, quanto mais durar o conflito, quanto mais ácido for o jogo das 'agressões e represálias', mais próximo poderemos estar de um conflito de alta magnitude, cujas consequências são imprevisíveis", argumenta.
Quais países têm F-16?
"Como a Ucrânia tem sido um campo de testes para determinados equipamentos, como drones e tanques, ao mesmo tempo em que aquece a indústria bélica ocidental, sempre 'carente' de um conflito que justifique novas armas e maiores orçamentos militares, as lideranças ocidentais ainda estão na zona de conforto. Há mortes de civis e militares no campo de batalha, sim, há muito sofrimento humano, sim, mas lamentavelmente, aos olhos dessas lideranças, esse é um preço ainda baixo a ser pago", resume.
'Paz não está no horizonte'
"Pensando particularmente nos Estados Unidos, é nítido que a arena militar lhes é confortável, pois possuem recursos, armas e soft power suficientes para sustentar conflitos bélicos sangrentos, em particular quando as vítimas não são cidadãos americanos. Nesse sentido, eu ousaria dizer que a Rússia de Putin até tentou ter uma relação mais cooperativa com o Ocidente […]. Talvez seja a hora do realismo político, há tempos escanteado nos EUA e na UE, voltar a campo", avalia o pesquisador.