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Pequenos reatores nucleares na Amazônia: tecnologia russa ajuda o Brasil na transição energética?

De olho na transição energética, o governo federal instituiu, por meio do Ministério de Minas e Energia, o programa Energias da Amazônia, que se propõe a ser o maior de descarbonização do mundo. Para resolver o uso de termelétricas para atender a comunidades isoladas, o Brasil deveria apostar na implementação de pequenos reatores modulares?
Sputnik
Liderar a transição energética no mundo: a "missão" é almejada por diversos atores do primeiro escalão do governo federal. A iniciativa já foi defendida pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, além do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A ambição não é mera bravata, afinal o Brasil é o país com matriz energética mais renovável entre as maiores economias do mundo. Através do programa Energias da Amazônia, por exemplo, o governo quer reduzir o uso de óleo diesel na produção de energia na região.
O decreto que institui o programa fala em promover investimentos em ações e projetos nos Sistemas Isolados localizados na região da Amazônia Legal destinados a reduzir a geração de energia elétrica por meio de combustíveis fósseis e a contribuir para a qualidade da energia elétrica. Nenhuma alternativa é propriamente mencionada no documento, mas o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, tem defendido a implementação de pequenos reatores modulares (SMR, na sigla em inglês).
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Em abril, após evento realizado em Brasília, Silveira disse que o Brasil precisa "plantar a semente" para estruturar a cadeia da produção de energia nuclear, com foco nos pequenos reatores. De acordo com ele, não seria razoável acreditar que manter usinas a óleo diesel é uma opção viável para atender a comunidades isoladas.
Atualmente o Brasil possui 212 localidades isoladas, a maior parte concentrada na região Norte. A ilha de Fernando de Noronha, em Pernambuco, e algumas localidades de Mato Grosso completam a lista.
Na percepção do ministro, a importância da energia nuclear é visível, já que o Brasil é um dos três países do mundo que detêm uma cadeia completa de urânio, e esse potencial deve ser resgatado na produção econômica do país.
Para o diretor técnico da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN) e coordenador do Comitê Científico e Tecnológico da Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul), Leonam Guimarães, optar pelos SMRs pode representar uma vantagem devido à sua flexibilidade, segurança e menores custos iniciais de investimento.
"Eles são particularmente adequados para regiões isoladas e com baixa densidade populacional, como a Amazônia, onde grandes usinas nucleares seriam economicamente inviáveis e logisticamente desafiadoras", explica o diretor.
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Pequenos reatores modulares na Amazônia: quais os prós e contras?

Os SMRs são reatores nucleares de pequena escala projetados para gerar eletricidade de forma mais flexível e econômica em comparação aos reatores tradicionais. Os pequenos reatores são caracterizados por sua modularidade, permitindo a produção em fábricas e a montagem no local de operação, o que pode reduzir custos e tempo de construção.
Guimarães acredita que os SMRs podem ser uma fonte de energia confiável e contínua para áreas remotas da Amazônia, onde a infraestrutura de transmissão é limitada.

"Sua capacidade de operar independentemente de redes elétricas extensas os torna ideais para regiões com difícil acesso, ajudando a melhorar a qualidade de vida e promovendo o desenvolvimento socioeconômico."

Entre as principais vantagens do modelo, o diretor técnico da ABDAN elenca:
Redução de emissões: SMRs não emitem gases de efeito estufa durante a operação, contribuindo para a redução do impacto ambiental das usinas térmicas, movidas a combustíveis fósseis;
Segurança: projetos modernos de SMRs incluem várias camadas de segurança passiva, reduzindo o risco de acidentes nucleares;
Modularidade e escalabilidade: a modularidade permite uma implementação gradual e escalável, ajustando a capacidade de geração conforme a demanda cresce;
Economia local: a instalação e a operação de SMRs podem gerar empregos e desenvolvimento tecnológico na região.
Por outro lado, Guimarães aponta que o projeto pode apresentar problemas que para serem superados necessitariam de financiamento adequado e parcerias público-privadas, além de um forte apoio governamental e um marco regulatório robusto. Como obstáculos, ele aponta:
Custo inicial elevado: embora menores do que os de grandes reatores nucleares, os custos iniciais de implementação de SMRs ainda são significativos;
Resíduos nucleares: a gestão e o armazenamento de resíduos nucleares continuam sendo um desafio;
Aceitação pública: existem resistência e preocupações da população em relação à segurança e aos impactos ambientais da energia nuclear.

Potencial de parceria Brasil × Rússia

"Brasil e Rússia estão alinhados em muitas questões e em uma perspectiva de cooperação com o acentuado engajamento bilateral dentro da esfera do BRICS", afirma Fabio Krykhtine, professor do Departamento de Engenharia Industrial da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador especial de Relações para a Federação da Rússia na Superintendência Geral de Relações Internacionais da UFRJ.
Nesse sentido, para o professor, podem ser estabelecidas alianças entre as duas nações no que diz respeito aos pequenos reatores modulares em regiões remotas.
Krykhtine, que acompanha o intercâmbio e a interação entre cientistas e instituições russos e brasileiros no âmbito do setor nuclear, afirma que a Rússia tem real percepção das oportunidades que o Brasil apresenta, uma vez que o país é um parceiro estratégico, um mercado potencial e, como todo o mundo, realizará um processo de transição energética.

"Uma parceria entre o Brasil e a Rússia no setor de energia nuclear parece não apenas viável, mas também estratégica, trazendo avanços tecnológicos e energéticos que podem beneficiar os dois países a longo prazo. A cordialidade das relações e a qualidade da interação serão importantes para alcançar esses resultados, que certamente se concretizarão em um aumento real de negócios", explica o analista.

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Guimarães reforça que o acordo entre os países é completamente viável e sugere a possibilidade de "espelhar-se no projeto da Rússia para centrais nucleares flutuantes", o que poderia configurar uma parceria Brasil-Rússia vantajosa.
Segundo o diretor técnico da ABDAN, como a Rússia possui experiência e tecnologia avançada no desenvolvimento de FNPPs (sigla em inglês para usinas nucleares flutuantes), elas podem, através de estudos, ser adaptadas para as necessidades da Amazônia.

"Essa parceria pode acelerar o desenvolvimento e a implementação dos SMRs na Amazônia, beneficiando ambas as nações em termos de troca tecnológica, segurança energética e desenvolvimento econômico sustentável", destaca Guimarães.

Vantagens de uma central nuclear flutuante sobre as centrais térmicas

Apontados como o futuro da energia nuclear, os pequenos reatores modulares estão funcionando em poucos lugares no mundo, aponta o artigo "Pequenos reatores modulares (SMRs): desafios em segurança, gestão de resíduos e aceitação pública", escrito por Francisco Raeder e Niágara Rodrigues.
Entre as opções, a Rússia é pioneira em seu desenvolvimento, especialmente em relação aos reatores de água leve (LWRs, na sigla em inglês). A empresa russa Rosatom, por exemplo, é reconhecida mundialmente no ramo.
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De acordo com Leonam Guimarães, diretor técnico da ABDAN, as centrais nucleares flutuantes apresentam várias vantagens em relação às centrais térmicas a óleo diesel, especialmente no contexto da região amazônica.
Essas vantagens, segundo ele, abrangem aspectos econômicos, ambientais, operacionais e de sustentabilidade a longo prazo.

"A substituição de centrais térmicas a óleo diesel por centrais nucleares flutuantes na Amazônia apresenta várias vantagens, incluindo a redução de emissões de gases de efeito estufa, menor custo operacional a longo prazo, maior eficiência energética, menor impacto ambiental, estabilidade e confiabilidade no fornecimento de energia, menor dependência logística e maior sustentabilidade."

Sobre a preocupação em relação ao meio ambiente, o diretor técnico tranquiliza preocupações, antecipando que a geração nuclear não contribui para a chuva ácida ou para a poluição dos corpos d'água, promovendo menor impacto ambiental que as termelétricas, que poluem significativamente o ar e a água.

Guimarães afirma ainda que "essa transição pode fomentar o desenvolvimento tecnológico e econômico regional, alinhando-se com os objetivos de transição energética e sustentabilidade defendidos pelo governo brasileiro".

Em relação à melhor opção para regiões remotas, como a da Amazônia, Krykhtine afirma que o SMR russo RITM-200 se destaca. Entretanto "os modelos adequados deverão ser selecionados em função de estudos locais amparados por um planejamento estratégico que apoie os objetivos dessas instalações", ressalta o professor.
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