Zelensky anunciou na sexta-feira (28), durante uma coletiva de imprensa em Kiev, que estava elaborando um novo plano, que deveria ser apoiado pela maioria dos países do mundo. Ele também aproveitou a oportunidade para, pela primeira vez, admitir um grande número de baixas no campo de batalha.
O especialista em relações internacionais e segurança Mark Sleboda disse à Sputnik que, embora os comentários de Zelensky ainda se baseiem no mundo da fantasia de que ele pode ditar condições à Rússia enquanto perde a guerra, a mudança de tom pode representar os primeiros passos do regime no sentido de admitir a realidade.
"O fato de ele ter dito que está disposto a falar com a Rússia através de um intermediário em algum momento futuro não revelado, acho que é um progresso", explicou Sleboda.
"Existe a possibilidade de que esta seja uma primeira tentativa, um passo em frente, dois passos atrás na direção de eventuais negociações para acabar com o conflito", acrescentou o especialista.
Zelensky fez os comentários não muito depois da sua chamada "cúpula da paz" ter caído por terra, com a China se recusando a participar e vários países influentes se recusando a assinar o documento final, incluindo o Brasil, África do Sul, Índia e Arábia Saudita. O Iraque e a Jordânia pediram que suas assinaturas fossem removidas no dia seguinte à assinatura do documento.
"Certamente, penso que a declaração [de Zelensky] representa a saída da fracassada iniciativa do regime de Kiev. O sentimento no resto do mundo fora do Ocidente, ou seja, a verdadeira comunidade internacional, a maioria global que quer negociações de paz reais, talvez, pelo menos isto seja um aceno nessa direção", especulou Sleboda.
A mudança no tom de Zelensky não é apenas um reflexo do fracasso da chamada "cúpula da paz", mas também da realidade no campo de batalha, onde a Ucrânia perde regularmente territórios significativos. Nesta segunda-feira (1º), o Ministério da Defesa russo anunciou que tinha libertado Stepovaya Novoselovka na região de Carcóvia e Novopokrovskoe na República Popular de Donetsk.
"Mesmo que [os comentários de Zelensky] sejam um passo simbólico nessa direção [das negociações], são impulsionados pelo estado desesperado no campo de batalha que o regime de Kiev enfrenta", argumentou Sleboda.
"Mais uma vez, [a Ucrânia] retirou tropas veteranas de Toretsk, em Niu-Iork, e transferiu-as para Carcóvia. A Rússia soube disso imediatamente, é claro, e lançou uma ofensiva na área e fez progressos significativos. Agora, o regime de Kiev está movimentando e dispersando tropas uma e outra vez", completou o especialista.
No entanto, apesar da natureza largamente simbólica dos comentários de Zelensky, ele terá de agir com cuidado com as facções banderistas na Ucrânia (em referência aos seguidores de Stepan Bandera, ultranacionalista ucraniano e colaborador nazista), que têm sido firmes na sua oposição à paz desde que recusaram cumprir os Acordos de Minsk.
Os grupos ultranacionalistas na Ucrânia ainda detêm um poder significativo e poderão tentar derrubar o regime de Kiev se virem Zelensky a pressionar em direção à paz. Estes grupos também são os que mais têm a perder se o objetivo do presidente russo, Vladimir Putin, de desnazificar a Ucrânia for concretizado.
Para complicar ainda mais as questões jurídicas entre os dois países, Zelensky assinou, em 2022, um decreto descartando qualquer possibilidade de negociação com Putin. Depois de Zelensky ter prolongado o seu mandato sem eleições recorrendo à lei marcial no início deste ano, Putin argumentou que Zelensky já não é o líder legítimo da Ucrânia e indicou que apenas reconheceria a autoridade do parlamento ucraniano.
Sleboda especula que "não há possibilidade de negociações entre o regime de Kiev e a Rússia", observando que acredita que a Rússia "realmente precisa negociar com os mestres da proxy do regime de Kiev, que são os Estados Unidos". Para o especialista, isso não acontecerá enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, permanecer no cargo.