Panorama internacional

Análise: maior desafio da Aliança Sul-Americana de Inteligência será conter a interferência dos EUA

Em entrevista à Sputnik Brasil, o analista aponta que a aliança firmada por agências de inteligência de 11 países sul-americanos deve ser leal aos interesses da região e não pode ser permeada pelos aparelhos de segurança do Ocidente.
Sputnik
Brasil e outros dez países da América do Sul firmaram nesta semana a Aliança Sul-Americana de Inteligência Estratégica.
A aliança reúne as agências de inteligência de Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname e Uruguai.
Segundo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a aliança confere legitimidade e segurança jurídica para a cooperação em importantes temas da atualidade.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Bruno Lima Rocha, cientista político, jornalista e professor de relações internacionais, com mestrado em ciência política concentrado na área de segurança e defesa, afirma que o mais importante para a aliança "é criar uma doutrina e um emprego comuns".

"Algo como um objetivo compartilhado e práticas do ciclo de inteligência que não sejam permeadas pelos aparelhos de segurança do Ocidente, com especial atenção dos EUA e de Israel", explica.

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Ele cita como exemplo o caso do professor palestino Muslim M. A. Abuumar Rajaa, detido pela Polícia Federal (PF) em 22 de junho, no Aeroporto de Internacional de São Paulo, junto com a esposa grávida, e notificado de que seria deportado. Diretor do Centro de Pesquisa e Diálogo da Ásia e do Oriente Médio (OMEC), que tem sede em Kuala Lumpur, na Malásia, Rajaa estava em viagem para visitar o irmão, que mora no Brasil e já tinha estado no país em 2023.

"O que ocorreu no aeroporto de Guarulhos recentemente, com a deportação do doutor Muslim M. A. Abuumar Rajaa, reconhecido intelectual palestino com cidadania malaia, é um exemplo dessa penetração absurda da inteligência ocidental e sionista em nosso aparelho de Estado", destaca Rocha.

Questionado se a aliança pode prevenir atentados contra a democracia ou as instituições, como nos atos do 8 de Janeiro, no Brasil, e a recente tentativa de golpe de Estado na Bolívia, o especialista afirma que "o Mercosul deve ter esse tipo de integração, contrapondo, por exemplo, a rede formada pelo Projeto Pontes [treinamento oferecido nos EUA a juízes brasileiros] e a Lava Jato, que gerou a absoluta ingovernabilidade do Peru e em parte do Equador".
"Se o 'back door' e as redes seguras da inteligência sul-americanas forem em coordenação com os servidores chineses, já seria um avanço para evitar o craqueamento e a SIGINT, a inteligência de sinais da NSA [Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos]."
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Ele acrescenta que, no âmbito do BRICS, o ideal seria a criação de "um colegiado permanente, com adidos de inteligência dos países-membros em uma subseção dentro do NDB [Novo Banco de Desenvolvimento], o novo banco do BRICS".

"Mas insisto: a principal preocupação é a lealdade do aparelho de inteligência dos nossos países, a começar pelo Brasil. A julgar o que houve no 8 de Janeiro, o país tem um déficit de lealdade e defesa do interesse nacional até no inconsciente coletivo dos agentes e analistas. […] Nossos inimigos domésticos são vassalos dos cartéis financeiros do Ocidente e da projeção de poder dos EUA através de seu deep state [redes de poder que operam em outros países]. O que ocorre hoje na Argentina é vergonhoso e ilustra essa minha preocupação", conclui.

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