Mais cedo, a PF cumpriu cinco mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão em cinco estados e no Distrito Federal, parte da operação que investiga um esquema de espionagem ilegal mantido por membros da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com as investigações, as notícias falsas disseminadas por Almeida eram repassadas por servidores da chamada "Abin paralela", segundo a PF.
Foram presos até o momento o ex-assessor da Secretaria de Comunicação Social (Secom) de Bolsonaro Mateus Sposito; os policiais federais Giancarlo Gomes Rodrigues e Marcelo de Araújo Bormeve e Rogério Beraldo de Almeida.
A nova fase da operação foi potencializada por dados encontrados em celulares apreendidos de alguns investigados.
Desde 2023, a PF investiga o uso ilegal de sistemas da Abin pelo ex-presidente para espionar opositores e desafetos pessoais. Foram espionados também o ex-governador de São Paulo João Doria, os servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges e os auditores da Receita Federal Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homem da Silva e José Pereira de Barros Neto.
De acordo com a polícia, Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin e candidato de Bolsonaro para as eleições municipais do Rio de Janeiro, determinou alvos a serem espionados por motivos políticos de interesse do então chefe de Estado.
Áudio sobre rachadinha de Flávio Bolsonaro
Após retirada do sigilo de alguns documentos do inquérito, nesta quinta-feira (11), por determinação do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), foi divulgado um áudio de Jair Bolsonaro com o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno e Alexandre Ramagem de agosto de 2020, que aponta uso ilegal da agência para obter informações sobre a suposta rachadinha do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), quando este era deputado federal.
Com pouco mais de uma hora de duração, o áudio, que está sob segredo de Justiça, aponta que a Abin tentou saber detalhes da investigação de Flávio Bolsonaro por uso ilegal de dinheiro público.
Segundo a PF, agentes que participavam do esquema monitoraram três auditores da Receita Federal responsáveis pelo relatório fiscal que baseou a investigação.
De acordo com a PF, no áudio é identificada a atuação de Alexandre Ramagem para instaurar um procedimento administrativo contra os auditores da Receita com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar os auditores de seus respectivos cargos. Em 2020, um dos três auditores foi exonerado pelo governo.
O senador Flávio Bolsonaro disse nas redes sociais que não tinha relações com a Abin.
"A divulgação desse tipo de documento, às vésperas das eleições, apenas tem o objetivo de prejudicar a candidatura do delegado Ramagem à prefeitura do Rio de Janeiro", complementou.
Alvos também no Caso Marielle e na área de meio ambiente
Hugo Ferreira Netto Loss, um dos alvos monitorados pela Abin paralela, segundo a PF, chefiava ações contra o garimpo e o desmatamento em terras indígenas no sul do Pará como servidor do Ibama. Chegou a ser exonerado do cargo de coordenador de operações de fiscalização do órgão ambiental na época.
Ainda de acordo com as investigações, a Abin monitorou ilegalmente as investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018.
O relatório da investigação indica que agentes da Abin buscaram informações sobre a promotora do Ministério Público do Rio de Janeiro Simone Sibilio e o delegado da Polícia Civil do Rio Daniel Freitas da Rosa, que atuaram na apuração do homicídio. Em 2019, um dos policiais imprimiu o currículo da promotora.
De acordo com o inquérito, o monitoramento das investigações visava "antecipar eventuais referências que vinculassem o núcleo político" que liderava a Abin paralela.