Em entrevista ao
Jabuticaba Sem Caroço, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas
Thaiana de Oliveira e Arthur Neto, especialistas destrincharam como a tentativa de assassinato a Trump afetará não só a disputa eleitoral nos Estados Unidos,
como as eleições municipais brasileiras deste ano.
Segundo Clarisse Gurgel, cientista política e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o campo da direita brasileira vai tentar "colher os louros" desse episódio.
Gurgel descreve que, assim como Bolsonaro teatralizou seu próprio atentado, o atentado de Trump será utilizado em uma maior dramaturgia eleitoral, e isso não envolve apenas a capitalização política, mas também a polarização dos eleitores.
Josué Medeiros, professor-adjunto de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), concorda que a família Bolsonaro está usando a mesma narrativa da perseguição de Trump.
"O bolsonarismo é muito conectado com redes internacionais, especialmente com o Trump", lembra o professor. "E eles estão com expectativas de
uma possível vitória do Trump como um caminho para interferir na política interna, inclusive reverter as condenações."
A verdadeira batalha política brasileira neste ano se dará nas eleições municipais, que para o cientista político serve como uma espécie de prévia das eleições presidenciais daqui a dois anos, "especialmente no nível de polarização que a gente vive".
"O nosso eleitorado está dividido em 30% direita, 30% esquerda e 40% que fica oscilando", estima Medeiros. Nesses casos, "a questão nacional pode prevalecer, porque como o prefeito é mal avaliado, o eleitor vai se posicionar por mudança".
Antes, afirma Medeiros, os aliados de Jair Bolsonaro estavam "desmobilizados, desorganizados", se canibalizando internamente em busca de votos. "Ricardo Nunes, fustigado pelo [Pablo] Marçal, Kim Kataguiri e pela candidatura do [José Luiz] Datena, não consegue nem unificar o campo dele", exemplificou. Agora, o discurso de vitimismo será cooptado pelos políticos da direita como forma de angariar votos.
Nesse sentido, todos os olhos estão voltados para São Paulo, onde o lulismo e o bolsonarismo disputam a prefeitura.
Apoiado por Lula, Guilherme Boulos (PSOL-SP)
enfrenta uma rejeição aproximada de 35%. Isso quer dizer que se Lula conseguir eleger Boulos na cidade de São Paulo,
"ele sai muito bem posicionado para 2026", afirma Medeiros.