Viaturas que pesam em média 8 toneladas, com uma velocidade de mais ou menos 90 km/h e blindagem para aguentar tiros de fuzil de calibre 762: essas são algumas características dos Guaicurus, os novos blindados que vão integrar o quadro bélico da cavalaria do Exército.
O contrato, avaliado em R$ 1,4 bilhão, foi executado como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, e está de acordo com o Programa Estratégico de Blindados das Forças Terrestres Brasileiras. A parceria com a italiana Iveco prevê a entrega das viaturas em um prazo de dez anos, com previsão de chegada das primeiras unidades em 2026.
A compra representa, além da recomposição para a defesa nacional, uma elevação do nível de nacionalização dos componentes, uma vez que a montagem das viaturas vai acontecer na fábrica de Sete Lagoas (MG) e abarca, segundo o Exército Brasileiro, "o serviço de integração do sistema de armas automatizado e de comando e controle", como o Equipamento Rádio TRC-1193 Mallet, desenvolvido e produzido pela Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel).
Outro exemplo é a torre REMAX, uma estação de armas remotamente controlada e de giro estabilizado, fabricada pelo próprio Exército, capaz de operar tanto com munições .50 quanto 762.
Fabrício Ávila, doutor em ciência politica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), avalia a negociação com bons olhos e vê um acerto do Brasil em vários aspectos.
"A fabricação nacional desses 420 Guaicurus vai fazer com que, pelos próximos 30 anos, a gente consiga gerar muitos empregos diretos e indiretos, porque vai ter toda a questão de manutenção, peças de reposição e tudo mais", explica.
Segundo o especialista, os veículos blindados estão de acordo com a doutrina seguida pelo Exército Brasileiro, de ter veículos de reconhecimento em apoio a tanques — no caso do país, o Centauro. Além disso, são viaturas que ajudam a elevar a segurança nas fronteiras.
Outro ponto positivo destacado pelo analista é o baixo custo do investimento em um equipamento que terá grande proeminência no futuro, em um contexto de miniaturização das armas. Cada Guaicuru vai custar cerca de R$ 1,5 milhão.
"Na guerra moderna, com a digitalização, quanto mais blindados uma força tiver, mesmo que leves, menos alvos os drones vão ter para engajar. Então a taxa de sobrevivência dos soldados vai ser maior", explica Ávila.
Países como a Inglaterra e a Rússia utilizam o veículo, conta o especialista. Os blindados leves russos, inclusive, são também de fabricação da Iveco e já foram testados na operação militar especial, em andamento na Ucrânia.
O presidente do ISAPE afirma ainda que as compras dos Guaicurus não representam um rearmamento do Brasil, mas a reposição de equipamentos defasados em 40 anos.
No âmbito na fabricação interna de armas, Ávila enxerga também a possibilidade de futuros intercâmbios entre empresas dentro do Brasil, como atrelar mísseis antitanque produzidos pela Avibras aos veículos blindados, por exemplo.
"Tudo que a gente conseguir produzir aqui e para países parceiros vai ser mais um passo para a estabilidade na América do Sul. […] Quanto mais preparado o Brasil estiver para o que vai acontecer agora no século XXI, melhor para a sua soberania e para o seu futuro. Um Brasil forte também vai ser uma América do Sul forte", finaliza.