Panorama internacional

Analista: Harris vai defender dogma russofóbico dos EUA enquanto o mundo busca uma ordem multipolar

Muita especulação surgiu sobre a abordagem da vice-presidente Kamala Harris em relação à política externa dos EUA nos dias desde que a ex-procuradora-geral da Califórnia foi anunciada como sucessora escolhida de Joe Biden no último domingo (21). A Sputnik ouviu o comentarista Michael Maloof sobre a questão.
Sputnik
Uma formidável confluência de interesses militares, de inteligência e financeiros, alternativamente referida como "o Estado Profundo" ou "a Bolha", tem permanecido historicamente hostil à potência mundial eurasiana, independentemente de qual presidente ocupe o Salão Oval.
Harris, que serviu no Senado dos EUA de 2017 a 2021, assumiu um perfil relativamente discreto. Os observadores especularam que ela foi deliberadamente encarregada de vender políticas controversas ao público durante o seu tempo como segunda em comando de Biden, como quando foi enviada para a Guatemala em 2021 para alertar potenciais imigrantes contra a ida para os Estados Unidos.
"Francamente, não sabemos o que ela fará no cenário internacional. Não há nada que ela tenha dito ou feito que nos dê qualquer indicação de qual é a sua posição sobre qualquer coisa", afirmou o ex-analista sênior de segurança do Departamento de Defesa dos EUA, Michael Maloof. Mas o analista acredita que a postura de Harris diante da visita do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu aos EUA é um indicador importante a ser observado. A vice-presidente se recusou a assistir ao discurso de Netanyahu no Congresso dos EUA, mas concordou em se reunir com ele em outra ocasião, durante sua estada em solo norte-americano.
"Ela não quer ser associada a ele publicamente [...]. É por isso que ela não aparece na sessão conjunta."
Para o analista, Harris, que é cerca de 22 anos mais jovem que o presidente Biden, pode estar naturalmente inclinada à simpatia dos jovens norte-americanos pela causa palestina, mas seria restringida pelas ações do seu antecessor. Maloof sugeriu que seria especialmente difícil para a candidata democrata traçar um novo rumo nas relações com a Rússia, que continua envolvida em uma guerra por procuração apoiada pelos EUA com a Ucrânia.
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"Temo que se continuarem a política em relação à Rússia, como estão agora, quando [Anatoly] Antonov, o atual embaixador russo, partir, ele não será substituído. Acho que [a Rússia] degradará as relações", disse Maloof. "Estamos tornando muito mais difícil renovar quaisquer relações."
"Estamos quase à beira de uma guerra por causa de uma farsa", acrescentou Maloof, referindo-se à teoria da conspiração de que Trump conspirou com a Rússia durante as eleições presidenciais dos EUA em 2016. "É basicamente isso que significa e, como consequência, as nossas relações no mundo estão complicadas agora."
"Nunca vi, em três anos e meio, como poderíamos [os EUA] ter estragado tanto as coisas no cenário internacional quando temos todas essas pessoas muito inteligentes e educadas no comando, supostamente, e estamos indo na direção que estamos. É inacreditável."
Na década de 1990, os Estados Unidos emergiram como a única superpotência mundial após a queda da União Soviética, possuindo maior influência política, cultural e econômica do que qualquer outra nação. Mas à medida que o militarismo dos EUA no século XXI levou à morte de cerca de 4,5 milhões de pessoas, os países do Sul Global têm se unido cada vez mais em apoio a Moscou e Pequim para procurar alternativas à hegemonia ocidental, demonstrado pela emergência de instituições como a Organização para Cooperação de Xangai (OCX) e o bloco econômico BRICS.
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"Devido a este conceito de ordem multipolar, estamos assistindo a uma maior mudança por parte dos países que têm sido historicamente sujeitos à colonização", afirmou Maloof. "Eles estão se rebelando e [entre] os poucos países que não estiveram envolvidos na colonização foram a Rússia e a China. É por isso que vemos o Sul Global — África, América Latina, Ásia — geralmente gravitando em torno deste conceito eurasiano, em direção ao BRICS, à OCX."
"[Os países do BRICS] estão se tornando, aliás, não apenas uma instituição econômica, mas podem se tornar a instituição de defesa contra a Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN] porque a Aliança Atlântica quer se expandir para o Pacífico", acrescentou. A controversa aliança militar reforçou os laços com aliados ocidentais tradicionais como a Colômbia, o Japão e a Austrália, à medida que os líderes da OTAN pintam Moscou e Pequim como as principais ameaças à ordem mundial liderada pelos EUA.
Maloof disse que é improvável que Harris supere a influência do establishment da política externa dos Estados Unidos se tentar renovar os laços com a Rússia.
"Independentemente de qual seja o presidente, haverá esta relação controversa que temos com a Rússia", afirmou o analista. "Acho que Kamala [Harris] será uma extensão e, como ela não tem essa pegada de política externa, acho que é muito mais provável que ela siga a tradicional linha democrata ou republicana dos EUA."
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