J. D. Vance, conhecido por ser um dos maiores críticos à ajuda americana à Ucrânia no Congresso, levanta preocupações sobre o futuro do apoio dos Estados Unidos a Kiev caso Trump vença as eleições em novembro.
A escolha de Vance destaca uma possível mudança na política externa americana, especialmente no que diz respeito ao conflito entre Ucrânia e Rússia, apontam analistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Especialistas políticos e observadores internacionais estão atentos às implicações dessa decisão, temendo que uma administração Trump-Vance possa reduzir ou até mesmo cortar a assistência financeira e militar a Kiev, forçando Vladimir Zelensky a negociar a paz com Moscou. Segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, caso Kamala Harris ganhe, o calote pode ser aliviado.
Ucrânia: o eventual calote bilionário nos EUA
Recentemente, a Ucrânia anunciou que pretende congelar o pagamento a credores internacionais até 2027. Um dos principais aliados financeiros ao poderio armamentista de Kiev, os EUA correm risco de levar um calote bilionário. É o que afirmam analistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Se somadas às verbas enviadas à Ucrânia, a nação norte-americana já disponibilizou cerca de US$ 175 bilhões (aproximadamente, R$ 990 bilhões) em ajuda.
Luiz Felipe Osório, professor de relações internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), aponta que uma mudança na política de apoio pode ter consequências significativas não apenas para a Ucrânia, mas também para os próprios EUA.
"O risco de um calote por parte de Zelensky é grande, principalmente considerando a proposta de congelar pagamentos a credores internacionais até 2027", afirmou Osório.
"No entanto, boa parte desse valor é destinado a gastos específicos dentro do complexo militar-industrial americano, o que mantém uma parcela significativa dos recursos nos Estados Unidos", alertou à Sputnik Brasil.
Condições precisam ser analisadas, mas Biden se beneficiou
Para Williams Gonçalves, professor titular de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), não está claro sob quais termos os Estados Unidos emprestaram dinheiro à Ucrânia.
Entretanto, ele destaca que grande parte desse financiamento foi destinado à compra de armamentos americanos por meio de créditos específicos.
"É preciso saber sob quais condições os Estados Unidos fizeram esses empréstimos à Ucrânia. Naturalmente que há garantias para esses empréstimos. E, diretamente, boa parte desse dinheiro foi concedido na forma de créditos para que Zelensky comprasse armamento nos Estados Unidos. A guerra da Ucrânia é, para os Estados Unidos, uma forma de vender suas armas", arguiu o analista.
Ele continuou dizendo que o presidente Biden é um homem do complexo industrial-militar. "Portanto, eu penso que uma boa parte desse dinheiro não foi passado diretamente para a Ucrânia, mas sim que foi dado na forma de créditos para a aquisição de equipamento nos Estados Unidos", complementou à Sputnik.
Ele observa que, para os Estados Unidos, o conflito na Ucrânia tem se mostrado uma oportunidade para vender armas, refletindo a influência da indústria bélica norte-americana no governo do presidente Joe Biden.
Trump deve ser protecionista e Kamala deve ser aliada
Osório destaca ainda que uma possível redução ou corte de ajuda à Ucrânia afetaria diretamente setores da produção de armamentos pesados e dos investimentos ligados ao conflito.
"Trump provavelmente diminuiria ou cortaria esse auxílio, refletindo a visão isolacionista de sua candidatura, que defende investimentos no mercado interno e a redução de gastos externos", sublinhou o analista internacional.
Sobre as possíveis ações de uma administração Trump, Osório comenta: "Trump tende a diminuir ou cortar o auxílio à Ucrânia, enquanto Harris, se eleita, provavelmente manteria ou até aumentaria o financiamento, seguindo uma política mais agressiva em relação à Rússia."
Gonçalves destacou que a eleição de Kamala Harris representaria a continuidade da política externa do governo Biden, especialmente em relação à Ucrânia. Ele argumenta que Harris foi escolhida como sucessora de Biden precisamente por essa continuidade, não por mera simpatia.
"Ela [Kamala] vai dar continuidade à política do Biden, que é a de tentar recuperar a posição de hegemonia dos Estados Unidos no mundo: atacando na Europa a Rússia e atacando na Ásia a China", alertou Gonçalves.
Por outro lado, Gonçalves afirma que a abordagem de Donald Trump seria significativamente diferente. Segundo ele, Trump adota uma visão comercialista das relações internacionais, concentrando-se principalmente nas vantagens econômicas da China em relação aos Estados Unidos.