"O não reconhecimento dos resultados pela principal força de oposição abriu uma brecha para um cenário imprevisível, somado às reações adversas que todos os presidentes de direita na América Latina demonstraram. Internacionalmente, há uma agenda importante e de tensão que este novo período de governo deve gerir, evitando o maior dano possível, especialmente do ponto de vista econômico e da legitimidade do processo eleitoral. Isso não significa que a Venezuela deva perder sua soberania e autonomia eleitoral, mas, no contexto de manter a paz, deve existir um ciclo de diálogo e verificação eleitoral", explica.
"Uma das características que o Brasil tem buscado consolidar na região é a de um país influente sobre seus vizinhos; em alguns casos com sucesso e, em outros, não. A relação com Lula vai além do político, há coincidências ideológicas e amistosas, mas também devemos estar com os pés no chão e compreender que do presidente brasileiro também tem pressões políticas internas, de seus aliados, que o obrigam a fixar posições como as conhecidas nas últimas semanas. Acredito que Lula só busca se erguer como um mediador que quer estar bem com todos", diz.
Quem é o presidente da Venezuela?
"Acho que é inédito na história da América Latina: um grupo de políticos influentes se agrupou para tentar sabotar ou interferir na vida política interna de algum país. Nem quando havia ditaduras militares em toda a região houve tal coisa. Estamos diante de uma estratégia internacional de direita, que vai além de reconhecer ou não a legitimidade do processo eleitoral. Estão destinados, por todas as vias, a incluir a Venezuela nos governos influenciados pelos EUA. As ações desses governos e figuras são irrelevantes em termos legais e internos para a Venezuela, mas não podemos menosprezar o dano internacional que causam, sobretudo do ponto de vista midiático, comunicacional e institucional. Mesmo assim, o governo do presidente Maduro enfrentou no passado situações similares ou piores", resume.
Em que a Venezuela se destaca?
"A Venezuela, por exemplo, expandiu em alguma medida muito a sua presença dentro da América Central, no Caribe. Isso para eles acabou sendo muito importante, embora hoje tenham uma relação muito difícil porque esperavam uma integração com o Mercosul, e isso acabou não acontecendo […]. Caracas já indicou sua disponibilidade, inclusive para poder participar do BRICS. E se depender dos demais grandes países do grupo, como África do Sul, Índia, China e Rússia, é um país com grandes chances de se tornar membro. Porém, eu vejo ainda uma posição brasileira muito lenta com relação a esse processo", argumenta.
Qual é a relação da Venezuela com os Estados Unidos?
"A Venezuela conseguiu caminhar muito na direção do estabelecimento de sua soberania desde o início do processo da Revolução Bolivariana. Porém, esse processo evidentemente vai se dar em choques, não só internacionais, mas também choques internos, com alguns dos setores que se beneficiavam desse sistema no qual as potências estrangeiras estabeleciam os rumos internos. O país ainda consegue mobilizar a sua própria população no sentido de resguardar e de defender a sua soberania", finaliza.