Nas últimas semanas, longas filas de caminhões, ônibus e tratores formaram-se em postos de gasolina na Bolívia, em meio à espera pela chegada do diesel, que está escasso em todo o país. Já no porto chileno de Arica, há quatro navios com combustível e petróleo (dois deles vindos da Rússia), que não podem descarregar devido às complicações climáticas. Enquanto isso, centenas de caminhões-tanque vindos da Argentina e do Paraguai tentam superar os bloqueios nas estradas para distribuir suas cargas.
O governo de Luis Arce tenta abrir canais de diálogo com os líderes dos sindicatos de transportadores, que desde a última terça-feira (30) realizam bloqueios em ruas e estradas em protesto contra a falta de combustível. Junto com os sindicatos de comerciantes, é preparada uma greve nacional de 72 horas para 1º de agosto em todas as estradas e pontos fronteiriços. Os manifestantes também exigem disponibilidade de dólares para o comércio.
A empresa estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB) convidou os líderes dos transportadores a verificarem em Arica a existência dos navios, que aguardam a melhora das condições climáticas e a diminuição das ondas. O governo não descarta questões "políticas" por trás dos protestos.
Outro motivo de reclamação desses setores é a falta de dólares. A Sputnik conversou com o motorista de caminhão Celso Gutiérrez, filiado ao sindicato de transporte internacional, que contou que, nos últimos meses, as importações diminuíram devido à escassez da moeda norte-americana para realizar as transações comerciais. Isso, segundo ele, afeta especialmente os caminhoneiros, que têm menos produtos para trazer dos portos do Chile ou do Peru, os mais próximos ao território boliviano.
"Ultimamente levo mercadorias bolivianas para o Chile, para os portos de Arica ou Iquique. Mas já não tenho nenhuma carga para trazer de volta ao país devido à queda das importações, então volto com o caminhão vazio", explicou. Por isso, os ganhos de Gutiérrez caíram pela metade.
"Com os caminhoneiros sem carga, há menos impostos, menos receita para o país. No meu caso, em 2023, paguei 160.000 bolivianos [cerca de R$ 131 mil] de imposto sobre lucros. Este ano, minha contribuição foi reduzida a um terço: paguei 58.000 [R$ 47,4 mil]", disse o motorista.
E acrescentou: "Calculo que em 2025 pagarei 10.000 bolivianos [R$ 8,1 mil] de imposto, porque as importações não estão entrando. Só levo produtos de exportação. Faturam do lado chileno e volto vazio."
Carga parada é suficiente para pôr fim à falta de combustíveis
O governo Arce espera que até a próxima sexta-feira (2) seja possível descarregar o conteúdo dos quatro navios. Segundo a YPFB, a carga total garante o abastecimento de combustíveis para a Bolívia por um mês e meio.
Até o último domingo, um bloqueio de trabalhadores da saúde na fronteira entre Yacuiba (Bolívia) e Salvador Mazza (Argentina) impedia a entrada de 140 caminhões-tanque com cinco milhões de litros de combustível. A chegada aos postos de gasolina reduziria consideravelmente as filas de caminhões e outros veículos de grande porte, segundo a YPFB.
Destes 140 caminhões-tanque, 90 traziam diesel e 50 gasolina especial. Enquanto isso, outros 100 caminhões vão para a Bolívia com combustível do Paraguai, informou a YPFB. A escassez de combustíveis terminará quando for possível descarregar em Arica. Entre as embarcações, estão os navios Sino Faith, que carregou 42.000 toneladas de diesel no porto báltico de Vysotsk, na Rússia. Também há o petroleiro Zeynep, com capacidade para 33.000 toneladas de diesel, proveniente de Primorsk, também na Rússia.
Os outros dois navios são o Seaways Galle e o Byzantion, cujas quantidades de combustível a serem descarregadas ainda não foram especificadas.