Panorama internacional

Petróleo e mais: quais interesses da Arábia Saudita com investimento de bilhões na América Latina?

Há uma nação rica de olho na América Latina, e não são os Estados Unidos, tampouco um país europeu.
Sputnik
Estamos falando da Arábia Saudita, que nos últimos anos vem aplicando investimentos vultosos que ultrapassam a casa dos bilhões, aproximando-se de US$ 10 bilhões (em torno de R$ 53 bilhões) apenas no Brasil.
O setor de foco da nação árabe é a energia, com recursos voltados principalmente para o petróleo, mas não apenas, segundo reforçam analistas ouvidos pela Sputnik Brasil.

Diversificação econômica

Um dos interesses, segundo apontado por um especialista, está na diversificação da economia.

"Os investimentos que vêm sendo feitos mais recentemente pela Arábia Saudita no Brasil e em outros países da América Latina e Caribe têm como objetivos principais a diversificação da economia, ainda bastante dependente da produção e exportação de petróleo", alegou o mestre e doutor em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro do Observatório de Regionalismo (ODR) Renan Melo.

Ele destaca também "a presença no desenvolvimento e exploração de novas matrizes energéticas em um cenário que demanda transição para a utilização de fontes mais sustentáveis de energia, o que se ajusta à chamada 'Visão 2030' do país [agenda de expansão econômica e sustentabilidade]".
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Segundo Melo, somam-se a esses interesses: a busca por recursos naturais, como água doce, minérios e produtos alimentícios, relativamente escassos no países árabe; a procura por expandir suas alianças e parcerias na ordem mundial multipolar, ampliando sua influência geopolítica; e a melhoria de sua imagem no cenário internacional.

Brasil como protagonista

Tatiana Garcia Delgado, mestre em estudos estratégicos internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista em geopolítica do Oriente Médio, sublinhou à agência que a Arábia Saudita está ampliando suas iniciativas para fortalecer relações políticas e econômicas com a América Latina, o que pode ser evidenciado por recentes aquisições e acordos na região.

"Já existem alguns exemplos disso, como a aquisição de uma distribuidora de petróleo no Chile, a aquisição de uma unidade da Vale também recentemente aqui no Brasil. E esses interesses estão ligados basicamente na questão agrícola e também na reserva de água doce presente na América Latina e nos países do Caribe", detalhou Tatiana.

De acordo com a analista, a crescente conexão entre a Arábia Saudita e a América Latina é também refletida nas relações bilaterais robustas, com destaque para o papel do Brasil. O Brasil, que já mantém uma parceria significativa com a Arábia Saudita, tem atuado como mediador entre o reino e outros países da região, salienta.
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"A Arábia Saudita convidou o Brasil a fazer parte da OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo], em um primeiro momento, pelo menos como observador. Graças aos esforços do Brasil, a Arábia Saudita também entrou no BRICS. Então o Brasil vem atuando como uma espécie também, não só de maior parceiro comercial, mas também como uma espécie de mediador entre a Arábia Saudita e os países latino-americanos", exemplificou a internacionalista.

Quais proveitos o Brasil poderá tirar?

Para Melo, o Brasil pode aproveitar a afluência de capital para acelerar e otimizar seu processo de transição energética a matrizes sustentáveis e de larga escala, "dado o elevado custo dessa transição em determinados setores da economia, como a indústria pesada e os transportes".

"Valer-se desses aportes e parcerias para promover o fomento e desenvolvimento tecnológico, bem como diversificar suas alianças estratégicas com um país de grande relevo nos cenários econômico e político internacional", elencou.

Delgado também acredita se tratar de uma grande oportunidade esse interesse da Arábia Saudita na América Latina.
"Recentemente, o Brasil já fechou um acordo por meio da Embraer com o Centro Nacional de Desenvolvimento Industrial do Reino da Arábia Saudita [NIDC, na sigla em inglês] para que possivelmente aviões brasileiros sejam construídos por lá, e, fora isso, há uma grande oportunidade também devido ao interesse da Arábia Saudita na capacidade de produção de energia limpa do Brasil."

Multipolaridade em foco

Em uma ordem global multipolar, é fundamental que o Brasil expanda suas alianças. É o que vaticinou o pesquisador do ODR quando questionado sobre a importância da nação brasileira diversificar as parcerias globais.

"Isso possibilita que não fiquemos dependentes ou sobremaneira vinculados a determinado país ou bloco de países dos pontos de vista econômico, tecnológico e político. Ademais, o Brasil mantém uma [posição] flexível e aberta à negociação e parcerias com diferentes polos e blocos de países, não seguindo o caminho de alinhamento estrito a qualquer diretriz geopolítica, o que favorece uma posição equilibrada, receptiva e mediadora no cenário internacional."

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