Tanto a
coalizão de esquerda como o partido de Marine Le Pen, que ganharam dezenas de cadeiras nas últimas eleições, são
críticos da política do presidente Macron, que estabeleceu por decreto o aumento da idade mínima legal de aposentadoria de
62 para 64 anos em 2030.
Na referida reforma, promulgada no início de 2023, também se estabelece que os cidadãos deverão trabalhar durante 43 anos (em vez dos 42 atuais) para receber uma pensão estatal completa.
O jornal aponta que Le Pen quanto o líder da esquerda Jean-Luc Mélenchon, cujo partido obteve
mais votos dentro da coalizão, propuseram
reduzir o número de anos necessários de contribuição para receber a aposentadoria completa.
A França atualmente conta com 17 milhões de pensionistas, quatro milhões a mais do que em 2004. Em comparação com outros países europeus, como Alemanha, que tem idade mínima de 65 anos para se aposentar, idade de aposentadoria na França é baixa. Entretanto, a maioria dos franceses, assim como os sindicatos e um amplo espectro político rejeitam a reforma, que foi implementada sem passar pela Assembleia Nacional.
Por sua vez, o economista britânico Felix Feather disse ao jornal que a questão das pensões é fundamental para as perspectivas fiscais de longo prazo da França e a demografia indica que o gasto com pensões se expandirá.
"Nesse sentido, vale lembrar que o déficit orçamentário da França, que representará 5,5% do PIB em 2023, é um dos mais altos da União Europeia. O país gasta 13,9% do seu PIB em pensões públicas, quase o dobro da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)", destaca o artigo.
O
Fundo Monetário Internacional (FMI) espera que a relação dívida/PIB da França atinja 118,5% até 2027. Quando Macron assumiu o poder em 2017, era de 98,1%.
As preocupações com os níveis de dívida da França levaram a agência de classificação Standard & Poor's a rebaixar a classificação de crédito do país em maio. A Moody's advertiu que poderia fazer o mesmo se as reformas das pensões forem revogadas, alerta o The Telegraph.
O meio britânico aponta ainda que, embora o recém-formado governo trabalhista inglês tenha prometido que não fará modificações no sistema de pensões — que experimentará mudanças, com nova lei que determina aumento da idade de aposentadoria estatal de 66 para 67 anos em 2028, depois para 68 anos em 2040 —, é possível que não tenha outra opção senão seguir o mesmo caminho que o presidente Macron, dada a situação dramática das finanças públicas do país.
"Assim como na França, uma proporção cada vez menor entre trabalhadores e pensionistas corre o risco de tornar o sistema público de pensões britânico fiscalmente insustentável. O gasto com pensões aumentou de 2% do PIB no início da década de 1950 para mais de 7% atualmente", destaca o jornal.
Essa situação, sentencia o artigo, fez com que, entre a
classe política britânica e os especialistas, a ideia de que o sistema estatal de pensões precisa urgentemente de uma reforma seja menos controversa do que na França. No entanto, o que as autoridades farão a respeito no curto prazo não está claro, afirma o jornal.
Segundo um grupo de especialistas do Centro Internacional de Longevidade, a idade de aposentadoria estatal no Reino Unido teria que
aumentar para 70 anos até 2040 para manter a proporção atual de
trabalhadores por pensionista. Além de ser profundamente impopular, isso pode se revelar inviável se as pessoas não estiverem suficientemente saudáveis para trabalhar.