As novas condições constantemente apresentadas por Israel são a principal razão pela qual um acordo viável de cessar-fogo e troca de reféns com o Hamas ainda não está à vista, disse o dr. Ali Mamouri, pesquisador da Universidade Deakin, à Sputnik.
"Israel é a principal razão para o atraso, pois adiciona novas condições constantemente. [...] O porta-voz do Hamas também disse no início desta semana que o Hamas havia concordado com a proposta recente de [Joe] Biden, mas [Benjamin] Netanyahu adicionou novas condições, arruinando o acordo. A única parte que pode levar o acordo adiante são os EUA, colocando pressão suficiente sobre Israel para finalizá-lo, mas parece que o governo Biden não está disposto ou não tem poder suficiente para fazê-lo", disse o analista.
As negociações entre o governo israelense e o Hamas sobre um acordo de cessar-fogo para Gaza estão no limbo mais uma vez, apesar de a Casa Branca se gabar sobre "progresso significativo" ter sido feito durante as negociações em Doha.
Depois de receber a proposta atualizada dos EUA para um acordo na sexta-feira (16), o Hamas culpou o primeiro-ministro israelense por "ainda colocar obstáculos no caminho para chegar a um acordo" e "estabelecer novas condições e demandas com o objetivo de minar os esforços dos mediadores e prolongar a guerra".
O Hamas disse que as negociações de cessar-fogo que estavam programadas para acontecer no Catar nesta semana eram um erro já que uma nova rodada de negociações deve acontecer no Egito na próxima quarta-feira (21).
No que diz respeito a Netanyahu, "tudo o que lhe importa é sua carreira política, seu futuro e preocupações sobre possível processo devido a alegações de corrupção e falha na gestão de segurança na violação de paz de 7 de outubro de 2023, sem mencionar o caso de genocídio em andamento no Tribunal Penal Internacional [TPI] contra ele", observou o Mamouri, que já atuou como consultor de comunicação estratégica do primeiro-ministro iraquiano de 2020 a 2022.
Todo o otimismo na mídia em torno das negociações de Doha foi um "erro de cálculo e má interpretação" dos desenvolvimentos reais, segundo o analista uma vez que a substituição do líder político do Hamas, Ismail Haniya — após seu assassinato durante um ataque israelense em Teerã — pelo mais "linha-dura" Yahya Sinwar também foi um sinal revelador de que "nenhum acordo ocorrerá em breve".
A única maneira de reverter o estado atual das negociações é a comunidade internacional "colocar séria pressão sobre Israel" e "empurrá-lo em direção a uma solução abrangente para esse conflito de longo prazo", enfatizou o especialista.
"Ao mesmo tempo, as potências internacionais e regionais precisam ajudar os palestinos a se unirem e entrarem em negociações sérias para acabar com o conflito para sempre. A China ter intermediado um acordo entre facções palestinas foi um movimento positivo que deve ser encorajado e desenvolvido ainda mais. Envolver forças regionais como a Arábia Saudita e a Turquia também ajudará a levar um acordo real adiante", acrescentou o dr. Mamouri.