No total, 27 países pertencem ao bloco europeu, mas a maquinaria da União Europeia (UE) tende a operar de forma mais eficaz quando a França e a Alemanha agem juntas para fornecer orientação estratégica e ímpeto.
Em alguns aspectos, a transição para uma nova era em Bruxelas ocorreu sem problemas até agora — mas alguns contratempos podem estar por vir, analisa o jornal britânico.
Devemos ter em mente, escreve a mídia, que os resultados das eleições foram tudo menos tranquilizadores para Paris e Berlim. A derrota do presidente Emmanuel Macron nas mãos da direita levou ao impasse político que assola a França, agora há quase dois meses sem um novo governo.
A questão é até que ponto os riscos que cercam a eleição presidencial francesa de 2027 prejudicarão iniciativas políticas ambiciosas em Bruxelas à medida que os novos líderes da UE se estabelecem.
Na Alemanha, todos os três partidos da coalizão governante do chanceler Olaf Scholz sofreram sérios reveses nas recentes eleições europeias. Mais problemas estão a caminho na forma de três eleições estaduais no leste da Alemanha: Saxônia e Turíngia no domingo (1º), e Brandemburgo em 22 de setembro.
Espera-se que a extrema direita faça fortes avanços, e talvez chegue em primeiro lugar, nessas disputas. Enquanto isso, os partidos da coalizão enfrentam a possibilidade humilhante de ganharem poucas ou até mesmo nenhuma cadeira nas três assembleias estaduais, escreve o FT.
Em outros aspectos, a transição da UE ainda tem alguns obstáculos a superar. O mais urgente é a composição da comissão do novo mandato de Ursula von der Leyen a frente da Comissão Europeia.
Segundo a mídia, von der Leyen solicitou que cada governo nacional apresentasse dois comissários candidatos — uma mulher e um homem — para ela escolher, a fim de montar uma nova equipe equilibrada em gênero. Mas a maioria dos Estados apresentou apenas um candidato homem. Em alguns casos, esses não são exatamente políticos da linha de frente.
O jornal analisa que a maneira como tantos Estados-membros ignoraram o pedido "demonstra um nível sem precedentes de desrespeito dos governos da UE para com a presidente eleita", ao mesmo tempo, a política se tornou tão fragmentada e polarizada na Europa que muitos governos optaram por fazer nomeações que podem manter a paz em nível nacional, mas ao custo de não atender aos interesses mais amplos da UE.
O FT também cita a diferença de políticas e objetivos – que têm gerado protestos públicos de alguns membros – entre o bloco e o país que atualmente ocupa a presidência, a Hungria, e questiona como a UE pode conduzir uma política externa coerente e vigorosa quando um ou mais Estados-membros estão fora da linha, ou quando conflitos como a guerra Israel-Hamas dividem o bloco?
A mídia cita um trecho do livro "A Europa está chegando à maioridade" do grego Loukas Tsoukalis, lançado ano passado, no qual o autor destaca que "em um mundo onde as placas tectônicas geopolíticas estão se movendo rapidamente e as preocupações com a segurança tomam conta da eficiência econômica, em um mundo onde o revisionismo russo toma um rumo desagradável e o unilateralismo dos Estados Unidos às vezes fica feio, a UE tem tido enormes dificuldades em lidar com a realidade da política de poder".
Tsoukalis propõe uma solução, uma vez que um novo tratado da UE que remova a necessidade de unanimidade na política externa parece improvável. Em vez disso, diz Tsoukalis, "um grupo central de países precisará urgentemente se mover mais rápido em direção a uma política externa e de defesa comum".
França e Alemanha naturalmente teriam que fazer parte desse grupo central, mas, ainda assim não concordam em algumas questões importantes.