De acordo com o jornal The Times of Israel, a posição foi compartilhada durante uma acalorada reunião do gabinete de segurança na quinta-feira (29) à noite, durante a qual Netanyahu fez com que o principal órgão ministerial votasse para aprovar uma série de mapas elaborados pelas Forças de Defesa de Israel (FDI).
Os mapas mostravam como Tel Aviv pretende manter suas tropas posicionadas no estreito trecho de 14 quilômetros conhecido como corredor Filadélfia durante a primeira fase de seis semanas do cessar-fogo com reféns que está sendo negociado.
Segundo uma transcrição da reunião vazada para o Canal 12 na sexta-feira (30), e citada pelo jornal, os ministros não foram informados com antecedência de que realizariam uma votação sobre os mapas das FDI e Gallant exigiu saber por que isso era necessário.
"O significado disso é que o Hamas não concordará, então não haverá um acordo e nenhum refém será libertado", disse Gallant aos ministros. Em seguida, Netanyahu respondeu: "Esta é a decisão".
Ainda durante a reunião, o Ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, pressionou para prosseguir com uma votação nos mapas que as FDI apresentaram na semana passada aos mediadores em Cairo, mas Gallant alegou que Netanyahu havia imposto sua posição ao establishment de segurança e que os mapas apresentados eram contra sua postura.
"Eu impus? Eu impus?", Netanyahu indagou. "Claro que você fez. Eles tinham seu próprio plano. Você tem conduzido as negociações sozinho desde que o gabinete de guerra foi dissolvido [em junho]. Só ficamos sabendo das decisões depois do fato. Os negociadores esboçaram os mapas como você queria, mas eles tinham uma posição diferente", disse Gallant.
Netanyahu então bateu as mãos na mesa, exigindo uma votação imediata em seus mapas da Filadélfia, escreve o jornal.
Gallant então disse aos ministros que o voto deles significa que se Israel enfrentar "duas possibilidades — manter as FDI posicionadas no corredor ou trazer os reféns para casa — vocês estão decidindo ficar no corredor da Filadélfia. Isso parece lógico para vocês? Há [reféns] vivos lá!", exclamou.
Dermer respondeu: "O primeiro-ministro pode fazer o que quiser". Gallant rebateu: "O primeiro-ministro pode de fato tomar todas as decisões e também pode decidir matar todos os reféns".
Nesse momento, outros ministros presentes criticaram Gallant por falar com o primeiro-ministro daquela maneira. O chefe da Defesa israelense então afirmou a Netanyahu que ele acabaria cedendo às exigências de Yahya Sinwar, chefe político do Hamas, de qualquer maneira.
Gallant voltou-se novamente para o primeiro-ministro e perguntou: "Se Sinwar lhe apresentar o dilema: ou você deixa Filadélfia ou devolve os reféns, o que você faz?". Netanyahu respondeu que a necessidade de manter as FDI no corredor era de crucial importância para o Estado.
O ministro disse que tudo isso seria muito bom se fosse uma decisão tomada isoladamente. Mas, ele perguntou, "e quando 30 vidas estão em jogo? O que você faz?". O primeiro-ministro disse: "Eu continuo no Filadélfia. Somente negociações resolutas forçarão [Sinwar] a desistir."
Os ministros então fizeram uma breve pausa e retornaram para aprovar o texto solicitado pelo primeiro-ministro. Gallant reconheceu que havia perdido a discussão dessa vez, mas previu que os ministros concordariam com sua posição, escreve o Times of Israel.
A votação de oito a um, com uma abstenção, ressaltou a posição já declarada de Israel sobre a questão do corredor da Filadélfia, uma vez que os mapas já haviam sido submetidos ao Hamas e aos mediadores Egito, Estados Unidos e Catar.
Um ministro não identificado disse ao que, diferentemente de discussões anteriores entre os dois, ninguém saiu em defesa de Gallant na noite de quinta-feira (29), acreditando que ele havia ido longe demais em suas críticas.
"Essa foi a discussão mais intensa que consigo lembrar entre Netanyahu e Gallantt. Netanyahu isolou Gallant completamente. Em situações como essas, um ministro da Defesa pode muito bem entregar suas chaves", afirmou o ministro, citado pela mídia.
Também na quinta-feira (29), o israelense Farhan al-Qadi, de 52 anos, foi encontrado com vida em um dos corredores de Gaza pelas FDI após passar mais dez meses sequestrado.
Enquanto a cúpula israelense discute, mais 89 palestinos foram mortos nas últimas 48 horas em meio ao ataque israelense em andamento. Segundo a agência Anadolu, o número de mortos na Faixa de Gaza aumentou para quase 40.700, e também há outros 94.060 feridos.
Do lado israelense, foram 1.200 mortos e cerca de 253 sequestrados após o ataque do Hamas em 7 de outubro.