Panorama internacional

Analista: Argentina pode optar por submarinos franceses ou alemães para 'fugir de pressão britânica'

O presidente argentino, Javier Milei, garantiu que comprará novos submarinos para o país. O especialista Juan José Roldán disse à Sputnik que o "posicionamento geopolítico" de Milei certamente o fará optar por submarinos franceses ou alemães.
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Buenos Aires procurará recuperar, pelo menos em parte, a sua reduzida capacidade submarina com a compra de novas unidades durante a gestão Milei, conforme confirmado pelo próprio presidente durante uma entrevista.
Na verdade, quando consultado pelo canal La Nación+ Milei incluiu "as compras de submarinos que vamos fazer" na lista de ações promovidas pelo seu governo para melhorar as capacidades das Forças Armadas do país, como a compra de caças F-16, a aquisição de navios, tanques e a base naval que pretende instalar junto aos Estados Unidos em Ushuaia, no extremo sul do país.
O anúncio presidencial voltou a impulso na Força de Submarinos da Marinha Argentina, órgão criado em 1956 e instalado na Base Naval de Mar del Plata e que contava com quatro submarinos operando simultaneamente.
No entanto, a passagem do tempo e a tragédia do submarino ARA San Juan, ocorrida em 2017, minaram gravemente as capacidades argentinas.

"Atualmente a força de submarinos não possui unidades operacionais porque o ARA San Juan se perdeu naquele acidente em que morreram 44 tripulantes, o ARA Santa Cruz mantém um destino incerto enquanto se trabalha nos reparos de sua 'meia-vida' e o ARA Salta já não está em condições de navegar, por isso é utilizado no porto para fins educacionais", explicou Juan José Roldán, especialista de defesa, entrevistado pela Sputnik.

Além disso, o submarino ARA San Luis, famoso por ter participado ativamente da Guerra das Malvinas, foi desativado em 1997.
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Neste quadro, Roldán lembrou que a necessidade de recuperação da frota submarina não é recente, e já tinha sido tratada pelas administrações anteriores. Porém, a compra de submarinos é uma questão difícil de enfrentar, uma vez que a mesma está "entre os investimentos que exigem maior quantidade de recursos para um país", o qual passa por uma profunda crise econômica.
Roldán, que é editor-chefe da revista Zona Militar destacou, a título de exemplo, quanto o valor da compra de 24 caças F-16 significou para Buenos Aires, visto que custou mais de US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão) ao Estado argentino. A aquisição de novos submarinos será uma questão de "bilhões de dólares".
Por outro lado, o especialista destacou que os submarinos devem ser entendidos principalmente como "uma arma de dissuasão" crucial para evitar conflitos ou possíveis ações de agentes externos, ainda mais considerando que a Argentina possui "talvez um dos maiores litorais marítimos do planeta".

"O papel estratégico do submarino reside no fato de ser uma arma muito difícil de detectar, mesmo com os avanços que existem no domínio antissubmarino. É uma arma estratégica e dissuadora porque, para além do combate […] você envia uma mensagem ao adversário de que pode negar-lhe o acesso ao mar", explicou.

Além disso, Roldán também considerou que Buenos Aires deveria "recompor as capacidades militares" olhando para o Atlântico Sul sob a hipótese de que "um eventual conflito entre os EUA e a China fecharia automaticamente o canal do Panamá para navios que não sejam aliados dos norte-americanos".
Em tal cenário, passagens como o estreito de Magalhães ou a passagem de Drake, no extremo sul do continente, poderiam tornar-se de importância capital.
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Entre submarinos franceses ou alemães

Embora ainda não tenha sido divulgada informação oficial sobre possíveis ofertas, valores ou prazos para a possível nova compra de submarinos, Roldán lembrou que, desde o governo de Alberto Fernández, a Argentina considera a França e a Alemanha os dois possíveis fornecedores mais prováveis.
Com efeito, o ministro da Defesa de Fernández, Jorge Taiana, visitou os estaleiros do Grupo Naval francês e da alemã ThyssenKrupp em julho de 2022 com o intuito de avaliar a possível compra de alguns dos seus modelos.
Enquanto a Naval oferecia seus submarinos Scorpene, a Thyssenkrupp apresentava como possibilidade os submarinos da classe 209, que a Argentina já operava sob os nomes de ARA Salta e ARA San Luis.
Estas duas opções foram ratificadas em um relatório que Nicolás Posse, chefe de gabinete de Milei até finais de maio, apresentou ao Senado em meados do quinto mês de 2024. Um artigo do jornal La Nación indica que há ofertas francesas e alemãs para a construção de três novos submarinos.
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Para Roldán, o atual "posicionamento geopolítico" do governo Milei a favor dos EUA, de Israel e do Ocidente em geral parece inclinar definitivamente a balança para as ofertas francesas ou alemãs, deixando outras alternativas possíveis que poderiam vir da China ou da Rússia, por exemplo.
Além disso, o editor-chefe destacou que França e Alemanha têm influência suficiente para fugir de possíveis "pressões" do Reino Unido, que costuma ver com preocupação o rearmamento da Argentina no Atlântico Sul.

"França e Alemanha têm margem de manobra para não perderem um potencial contrato de US$ 2 bilhões [R$ 11 bilhões] a US$ 3 bilhões [R$ 16 bilhões] devido a um conflito que a Argentina já disse que resolverá por via diplomática", afirmou.

O governo Milei admitiu que também está pensando em um "submarino transitório" para ser utilizado enquanto os novos estão sendo construídos, algo que levaria entre dois e três anos, segundo o relatório.
Aparecem como possíveis alternativas a aquisição de submarinos usados ​​da Marinha do Brasil ou da Marinha da Noruega, de quem a Argentina acaba de adquirir aeronaves de vigilância P3 Orion.
Roldán disse que, por conta das exigências do conflito na Ucrânia, é improvável que a Noruega envie submarinos para a Argentina neste momento. O editor-chefe complementou que se o país optar por adquirir submarinos usados, deve também garantir que terá novos a médio prazo.
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