"A própria China, a Índia, têm aumentado suas reservas em ouro. A China tem favorecido em seu comércio trocas que não são feitas em dólar. Então o que a gente percebe é que a hegemonia do dólar como aquela moeda segura, onde todos os países utilizavam para manter as suas reservas e realizar trocas internacionais, é um processo que está em decadência", frisou a entrevistada.
"Ele [os EUA] está perdendo o poder de uma série de áreas: de política, de tecnologia […]. A China está bem superior em relação à tecnologia, em produção, em outras questões. Há vários países que se destacam também no desenvolvimento de tecnologias, de produção agrícola, então o americano já não é a superpotência que era", argumentou o analista.
"Uma vez que a maior parte dos países que têm ampliado a sua reserva de ouro são países que recentemente passaram por um processo de revolução, golpes, em oposição às suas relações tradicionais, principalmente na região do Sahel, ali com a França […]", comentou ela. "Eles poderiam estar aumentando as suas reservas em outras moedas, poderia ser feita outra escolha. Mas, neste momento, pela questão das taxas de juros e a queda das taxas de juros dos países desenvolvidos, a escolha tem sido feita em ouro", declarou ela.
"Porque desde o ano passado, a China, a Índia, principalmente, que têm crescido bastante, já estão correndo nesse mercado internacional. O Brasil também já tem vistas para fazer mais reservas de ouro. Porque o dólar não para de flutuar", comentou, ao acrescentar que os conflitos envolvendo países do Oriente Médio e a Rússia e Ucrânia também têm sido responsáveis pela fuga de capitais e busca mais acirrada pelo ouro, prejudicando principalmente os países mais pobres no poder de compra.
"Você ainda não conseguiu criar, em muitos desses locais, a ideia de que aquele território é uma nação, que esses recursos não deveriam ficar somente vinculados a um grupo específico, mas sim pensando em toda a população", refletiu. "Para isso, não é necessário somente manter a riqueza, é necessário desenvolver essa riqueza […], fazer dessa riqueza uma transformação tecnológica", acrescentou Fingermann.
"É difícil a gente saber como é que isso pode ser resolvido, mas, do meu ponto de vista, enquanto não tiver o interesse, não somente local, mas também o interesse, vamos dizer, global, para que essas questões sejam resolvidas tem que mudar um pouco a estrutura do sistema internacional, a estrutura do comércio internacional como um todo teria que ser repensada, não acho que isso seria algo que a gente possa vislumbrar uma solução de curto prazo", concluiu.