"Afinal, a Rússia já enviou algumas propostas para a Ucrânia, de tentar conversar e tentar pacificar esse conflito. Enquanto isso, a Ucrânia tenta sempre escalar. […] neste exato momento do conflito, é mais fácil perceber que Zelensky está se utilizando dessa narrativa de vitimização para angariar suporte e demonstrar um poder pessoal, o que não traz nenhum benefício para nenhum dos lados", opinou ela.
"A consequência disso é que grande parte das nações do Sul Global evita comprometer-se abertamente em um alinhamento com um dos lados."
"A Rússia tem dado destaque ao papel do BRICS e à necessidade de aprofundar as relações com o Sul Global, tanto no contexto do BRICS quanto em outros fóruns multilaterais, como o G20 (esforços que não são novos, mas que vêm ganhando maior enfoque). A China, por sua vez, exerce forte influência comercial, sendo o principal parceiro de vários países do Sul Global", acrescentou Carvalho de Araujo.
"[…] Se tratarmos do Sul Global, que também está tentando surgir enquanto ator relevante no cenário internacional, acredito que seja a sobreposição de múltiplos atores, não apenas da Rússia e da China, mas de outros Estados que compõem o BRICS."
"Ao mesmo tempo, temos a resistência dos tradicionais polos de poder e diversos conflitos na atualidade que colocam em lados opostos os interesses das potências, tornando as relações entre os países mais delicadas e frágeis e contribuindo para menos propostas multilaterais, em favor de acordos bilaterais ou, inclusive, ações unilaterais", disse Almeida Neto.
"Isso fica evidente na preparação da proposta conjunta de paz para a Ucrânia elaborada pelo Brasil e pela China, sugerindo que os países não ocidentais podem preferir soluções diplomáticas e pacíficas, fora do escopo da OTAN, que é essencialmente uma aliança militar", disse ela. "Esse esforço está alinhado com os objetivos mais amplos do BRICS de promover uma ordem mundial multipolar, o que provavelmente terá repercussão nas discussões durante a Assembleia Geral da ONU", apostou Carvalho de Araujo.
A OTAN no conflito
"Ao longo do tempo, portanto, é possível que propostas originadas por outros países, como os da América Latina e África, tenham um peso maior dentro da comunidade internacional e o discurso da OTAN se torne enfraquecido, em razão de ser parte diretamente interessada no conflito", ponderou.
"Cada vez mais a OTAN faz um movimento contrário de enfraquecer sua dinâmica, a sua posição no cenário internacional, porque não é mais, na minha perspectiva, uma aliança de defesa: tornou-se um risco muito grande e uma instigadora de conflitos e de discórdias internacionais."