Ciência e sociedade

'Não dava para acreditar': revelado o mistério da pior tragédia do Ártico na história

O desaparecimento dos navios HMS Terror e HMS Erebus entre as ilhas polares do Canadá foi o maior desastre da história do Ártico. Entretanto, ainda não se sabe exatamente o que aconteceu com o grupo de 129 exploradores polares. Um novo estudo genético levanta o véu do mistério.
Sputnik

Era impossível acreditar

No início do século XIX, os britânicos fizeram várias tentativas para encontrar a chamada Passagem do Noroeste, uma rota marítima do oceano Atlântico para o oceano Pacífico.
A expedição de John Franklin em 1819-1822 foi particularmente famosa. Os exploradores polares viajaram de volta por terra, comendo principalmente líquen.
E uma vez Franklin fez um registro em seu diário: "Não conseguimos encontrar líquen, então tomamos chá e jantamos com nossos sapatos".
John Franklin
Franklin empreendeu sua quarta e última expedição em 1845. Tinha o objetivo de concluir a pesquisa da rota marítima norte-americana.
Dois navios, o HMS Terror e o HMS Erebus, veleiros de madeira com motores de locomotivas a vapor, foram utilizados, com suprimentos para cinco anos.
Não houve notícias dos exploradores polares por um longo tempo, o que era normal naquela época, pois não havia comunicação por rádio. No entanto, em 1848, começou uma operação de resgate, que não teve sucesso.
Sepulturas na ilha Beechey
Os primeiros túmulos dos desaparecidos foram encontrados em 1850. Alguns anos depois, os pesquisadores encontraram esquimós que lhes mostraram itens dos navios.
Dos relatos dos aborígines apareceram as primeiras suspeições que a tripulação havia recorrido ao canibalismo.
O Reino Unido vitoriano ficou chocado, muitos se recusando a acreditar que a elite da Marinha do país pudesse se rebaixar a tal coisa.
Investigações posteriores revelaram cortes de faca e vestígios de cozimento nos restos de membros da tripulação.

Última nota

Foi descoberto que os membros da expedição deixaram anotações ao longo do caminho, inclusive em pirâmides especiais feitas de pedras. Graças a essas e outras descobertas, o curso dos eventos foi reconstruído de forma aproximada.
Os navios ficaram presos no gelo por dois anos. Durante esse período, 24 homens morreram, inclusive o capitão Franklin. Ele foi substituído no Erebus por um ambicioso oficial da Marinha Real, James Fitzjames.
James Fitzjames
É provável que ele tenha sido o autor do último relatório conhecido da expedição.

Uma nota deixada na ilha King William dizia: "Sir John Franklin morreu em 11 de junho de 1847, e a perda total da expedição até o momento foi de nove oficiais e 15 marinheiros. [...] Embarcamos amanhã, dia 26, em direção ao rio Back".

Eles esperavam alcançar as pessoas por esse rio. Em abril de 1848, 105 marinheiros partiram.
Em seguida, encontraram 35 locais com restos humanos. O mais distante ficava a 400 quilômetros de distância, na península de Adelaide.
A catástrofe foi causada por um conjunto de circunstâncias desfavoráveis:
1.
O capitão Franklin não havia escolhido a rota mais favorável.
2.
O equipamento não era adequado para o frio do Ártico.
3.
A tripulação foi atormentada por várias doenças: tuberculose, botulismo, escorbuto.
Além disso, estudos recentes encontraram altos níveis de chumbo nos cabelos dos falecidos. Isso se deve à má qualidade das latas ou do sistema de destilação de água.
As latas da Goldner são uma possível causa de envenenamento por chumbo dos membros da expedição
O metal tóxico enfraquece não apenas o sistema imunológico, mas também as habilidades cognitivas de uma pessoa. É possível que isso tenha afetado a qualidade do gerenciamento da expedição.

Incrível nível de desespero

A tragédia ainda está sendo investigada até hoje. O Terror e Erebus foram encontrados no fundo do mar em 2014 e 2016, respectivamente.
E em 2017, os cientistas pediram aos descendentes daqueles que participaram da expedição malfadada que respondessem para determinar a quem pertenciam os restos mortais usando testes genéticos. Assim, foram identificadas 25 pessoas.
Escavações na ilha King William
Agora, uma nova e importante descoberta foi feita usando a genética.
O antropólogo Douglas Stenton, da Universidade de Waterloo, e sua equipe determinaram que uma das mandíbulas com marcas de corte é de James Fitzjames. Ou seja, os subordinados dele provavelmente o comeram.

"Foi canibalismo para sobreviver. Eles devem ter experimentado um nível incrível de desespero. Mas, infelizmente, essas medidas drásticas apenas prolongaram o sofrimento dessas pessoas", diz Stenton citado pelo The Guardian.

Quanto mais novas informações, mais dúvidas surgem. É digno de nota o número de oficiais, inclusive oficiais superiores, que morreram durante a expedição.
O que exatamente aconteceu com os participantes da caminhada desesperada em terra firme só pode ser adivinhado.
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