Panorama internacional

Caso Diddy: EUA tentam apagar rastros de criminosos úteis ao jogo imperialista, diz historiador

Tráfico para a exploração sexual, promoção de prostituição e outras atividades criminosas. Essas são apenas algumas acusações contra o famoso rapper norte-americano P. Diddy que prometem abalar gigantes de Hollywood. Mas o que o silêncio ensurdecedor do governo norte-americano revela?
Sputnik
Em mais um escândalo que mostrou a face mais obscura de Hollywood, o envolvimento de um dos principais artistas da indústria musical em uma enorme lista de crimes que começam por agressões sexuais e envolvem até tráfico têm dominado a opinião pública nas últimas semanas. O rapper Sean John Combs, mais conhecido como Puff Daddy e P. Diddy, segue preso desde o dia 16 de setembro e pelo menos 120 vítimas já denunciaram os diversos casos que aconteceram nos eventos organizados pelo norte-americano. A defesa do rapper chegou a oferecer US$ 50 milhões (R$ 279,2 milhões) para que ele pudesse responder ao julgamento em liberdade.
O silêncio ensurdecedor de autoridades, figuras públicas ocidentais e jornalistas sobre o que pode ser um dos maiores casos de exploração sexual no mundo artístico dos Estados Unidos levou a uma declaração da representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, segundo a qual materiais comprometedores sobre as festas do rapper chegaram a ser usados para pressionar envolvidos a defenderem o apoio do país ao regime de Vladimir Zelensky em meio ao conflito na Ucrânia, entre outras agendas do governo americano.
"Há uma lista de milhares de pessoas que são dependentes, de alguma forma, dessas coisas, contra as quais há esse material prejudicial, que é usado para fazer avançar o material sobre a Ucrânia, para fazer passar o material sobre a Venezuela, para fazer mover o material sobre Belarus, e assim por diante", afirmou Zakharova.
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O professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) João Cláudio Pitillo pontua à Sputnik que Washington se mostrou cúmplice dos crimes de P. Diddy, ao mesmo tempo que "chantageou as vítimas".

"É um escândalo abominável, mas não é novo. Sabemos que essa dupla moral que reina na política externa estadunidense se reflete internamente na sociedade, na tentativa de apagar os rastros criminosos daqueles que têm alguma utilidade para esse jogo imperialista. Veja também a dificuldade que foi até agora para apurar o papel do filho do Joe Biden na Ucrânia", declara.

O especialista acrescenta que os órgãos de segurança, defesa e inteligência da Casa Branca sempre usaram "as pessoas dos escalões mais problemáticos da sociedade norte-americana para que se manifestem politicamente contra seus alvos internacionais". Em troca, ganham uma espécie de salvo-conduto para os crimes cometidos.
"Isso não é novo na história dos Estados Unidos. Todos aqueles ditadores latino-americanos que tinham uma vida obscura, pessoas que cortejavam com o fascismo, foram artífices de massacres, de perseguições, de violência de todos os tipos nessas ditaduras da Guerra Fria. Todos eles eram recebidos nos Estados Unidos como celebridades e pessoas importantes", exemplifica.
Em meio à popularidade cada vez menor entre os norte-americanos do apoio a Kiev, o governo chegou a recorrer à chantagem e aos artifícios criminosos para criar uma narrativa favorável aos seus interesses, diz Pitillo.

"A famosa causa ucraniana tem se tornado cada vez mais superficial e afastada da realidade estadunidense. A popularidade da guerra da Ucrânia despenca nos Estados Unidos em dois polos — primeiro, pela falta de resultados positivos no campo de batalha e, segundo, por conta da quantidade enorme de dinheiro que está sendo mandado para a Ucrânia. O recurso que faz falta nos Estados Unidos, onde uma inflação teima em ser grande e cobra um preço muito caro da população sobre custo dos serviços básicos, tem aumentado cotidianamente."

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EUA e a dupla moral na política

Para o professor da UERJ, a dicotomia entre discurso e ação da política dos EUA reflete uma dupla moral.

"O que eles pregam no campo teórico não ocorre na prática. A política do país visa respaldar o imperialismo e os interesses políticos econômicos estadunidenses. Eles não têm a menor responsabilidade com nada e, ao mesmo tempo, usam sua grande máquina midiática para camuflar tudo isso. Buscam iludir e transferir seus delitos para os desafetos. Ao mesmo tempo, mostra o nível de desespero em que se encontra o país para recorrer a coisas tão baixas para enganar a opinião pública sobre a Ucrânia, por exemplo", argumenta.

Além disso, a dupla moral é usada com o objetivo de alienar a própria população, a fim de mostrar que o governo age supostamente em prol de uma causa nobre, como a democracia, quando na verdade é o contrário.

Qual é o conceito de imperialismo?

Prática de expansão econômica, política e cultural sobre uma nação, o imperialismo é, há séculos, uma ferramenta de dominação usada por grandes potências, sendo os EUA o maior exemplo. Toda essa atuação reflete mais uma vez como o país age, inclusive com seus próprios aliados, segundo o especialista.

"O país não vê ninguém como parceiro ou sócio, mas tem uma visão de que o resto do mundo está subordinado aos seus interesses. E aqueles que negam isso são tratados como inimigos, além de serem sabotados, bloqueados e sancionados. Os Estados Unidos nunca admitiram relação de paridade com nenhum país do mundo", resume Pitillo.

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