Panorama internacional

Polônia condiciona adesão de Kiev à UE à exumação de corpos da 2ª Guerra Mundial em solo ucraniano

Vladimir Zelensky ficou furioso após uma reunião no mês passado com o chanceler polonês, o qual fez questão de frear as ambições da Ucrânia de adesão rápida à União Europeia, escreve a Bloomberg neste domingo (13).
Sputnik
A mídia relata que, durante o intercâmbio em Kiev no mês passado, o ministro das Relações Exteriores polonês, Radoslaw Sikorski, frustou as expectativas de acelerar o processo para entrada ucraniana no bloco europeu.
O chanceler mencionou as exigências de Varsóvia, incluindo a de que as vítimas dos massacres de poloneses étnicos na Segunda Guerra Mundial sejam exumadas das terras que agora pertencem à Ucrânia.

De acordo com os participantes da reunião, ouvidos pela agência norte-americana, Sikorski vinculou as exumações às negociações de adesão de Kiev à UE. Se a adesão à UE pode ser negociada em um fórum político, a questão dos massacres de poloneses em 1943 por nacionalistas ucranianos na região de Volyn está se tornando muito mais do que um debate entre historiadores. Estima-se que 100.000 pessoas, incluindo mulheres e crianças, pereceram no massacre, relembra a mídia.

As tensões renovadas com o vizinho, que pontuaram as relações mesmo depois da operação russa, ressaltam o difícil caminho da Ucrânia em direção à integração ocidental.
As coisas pareciam mais esperançosas um ano atrás. Quando Donald Tusk retornou ao cargo de primeiro-ministro da Polônia, Tusk prometeu melhorar as relações que haviam sofrido sob o governo anterior.
A administração passada impôs uma proibição às importações de grãos ucranianos em resposta aos fazendeiros que denunciaram o que chamaram de queda nos preços motivada por um excesso de trigo do leste.
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Mas Tusk também teve que navegar na política polonesa. Enquanto ele jurou reunir apoio para Kiev em seu primeiro discurso ao parlamento em dezembro passado, o premiê garantiu que ele mostraria "assertividade cordial e amigável" em questões que pudessem colocar os interesses nacionais da Polônia em risco.
O vice-primeiro-ministro polonês, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, disse que a adesão da Ucrânia à UE estava fora de questão até que os mortos fossem tratados com respeito. Tusk disse o mesmo.
"Há uma necessidade de cavar fundo nessa história se estamos prestes a construir um bom futuro. Enquanto não houver respeito por esses padrões do lado ucraniano, então a Ucrânia certamente não se tornará parte da família europeia", disse Kosiniak-Kamysz em uma entrevista coletiva em Varsóvia no final de agosto, segundo a Bloomberg.
A divisão das terras ucranianas entre a Polônia e a União Soviética após a Primeira Guerra Mundial alimentou queixas étnicas enquanto Varsóvia lançava políticas opressivas para assimilar novas populações. As hostilidades crescentes culminaram nos massacres de poloneses em Volyn de 1943 a 1945 e no subsequente reassentamento forçado de cerca de 150.000 ucranianos.
Embora Kiev reconheça as atrocidades de Volyn, também apelou à Polônia para não politizar a questão — e buscar maneiras para um acordo pacífico. Mas o foco de Sikorski na questão na reunião com Zelensky, que também contou com a presença do ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, mostrou que qualquer intenção de deixar isso para os historiadores era um fracasso em Varsóvia.
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Questionado sobre a reunião, o chanceler polonês disse em uma entrevista de rádio que sabe "como expor as coisas com firmeza" — e recebeu garantias de que uma solução será encontrada. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrei Sibiga, se encontrou com seu colega polonês e presidente Andrzej Duda, em Varsóvia neste mês, e disse que as conversas foram "construtivas" e "pragmáticas".
A Polônia continua a pedir apoio militar cada vez maior para a Ucrânia, sanções mais duras contra a Rússia e acolheu quase dois milhões de refugiados desde o início do conflito. Mas ambos os países têm capítulos históricos dolorosos para trabalhar.
"A Ucrânia está em uma situação muito complicada e não apenas por causa da guerra. É meio que um negócio inacabado sobre o passado", disse Judy Dempsey, analista da Carnegie Europe em Berlim.
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