Panorama internacional

Brasil-África: não adianta seguir caminho por 4 anos e ficar 8 ou 12 anos distante, diz especialista

Entre hoje (14) e amanhã (15) acontece, na cidade de São Paulo, a 12ª edição do Fórum Brasil-África, que terá como tema central o investimento em infraestrutura para o desenvolvimento sustentável no Brasil e na África. Para especialista ouvido pela Sputnik, em sua reaproximação com a África, o Brasil precisa de continuidade nos programas adotados.
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A ideia do evento é estimular parcerias e novas oportunidades de negócios entre parceiros do Brasil, da África e de outras geografias.
Entre os palestrantes estão o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o assessor-chefe da Assessoria Especial do Presidente da República do Brasil, Celso Amorim.
A expectativa para o encontro, segundo o presidente do Fórum Brasil-África, João Bosco, é que possam ser identificadas oportunidades para necessidades de infraestrutura que existem nessas duas regiões.
Bosco contou também que o encontro pensa a infraestrutura de uma forma mais ampla. "Nós teremos no evento discussão sobre inteligência artificial, PPPs [parcerias público-privadas], agricultura, energias renováveis. Os ambientes são propícios para também falarmos sobre mineração e financiamento de projetos", lista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil.
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O presidente ressalta também que o fórum entende que as infraestruturas são peculiares a cada região, a cada país.

"Não dá para nós pensarmos que o que falta ainda fazer no Brasil é a mesma necessidade que ainda precisa ser resolvida em Botsuana, na Zâmbia ou no Marrocos. […] A África é um continente muito diverso. Nós temos 54 nações que têm algumas semelhanças, mas muitas diferenças."

Embora o fórum tenha o nome de "Brasil-África" e a gênese do Instituto Brasil África seja essas duas regiões, Bosco afirma que não é possível falar de Brasil e África tendo apenas esses dois nomes no fórum, ou seja, é preciso expandir a participação e contar com a presença de outros parceiros interessados em investir e colaborar com as partes.

"Nós vamos ter nacionalidades diferentes. Nós temos uma ação, por exemplo, com o porto de Las Palmas, o instituto vai assinar dentro da programação um acordo com a Autoridade Portuária de Las Palmas para que naquela região, nas Canárias, nós desenvolvamos um hub de transbordo de cargas, de equipamentos que usam, que vão usar essa tecnologia, tecnologia do porto, como um grande ativo, para empresas brasileiras, africanas e europeias", comenta.

Além disso, o presidente do instituto confirmou a presença de delegações dos Emirados Árabes, da China e da Rússia. Entre os países africanos, 34 das 54 nações estarão representadas no encontro em São Paulo, que começa nesta segunda-feira (14).
Em relação a acordos e parcerias fechados no âmbito do fórum, Bosco destaca a gênese de uma operação que envolveu agentes públicos do Ceará e uma empresa angolana, que tinha como intuito trazer um cabo submarino de Luanda até Fortaleza.
Ele chama a atenção também para a empresa de aeroportos da África do Sul, a ACSA, que administrou o aeroporto de São Paulo. O presidente lembra também da inauguração do voo da Royal Air Maroc, que foi anunciado durante o Fórum Brasil-África. "Do mesmo jeito, eu estive no voo inaugural da Ethiopian Airlines, quando fez a primeira ligação de Adis Abeba para São Paulo, parando no Togo."
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Para Bosco, falar em laços entre Brasil e o continente africano significa demonstrar raízes intrínsecas às regiões.

"Nós temos uma história que não pode ser descartada. Ao contrário, precisa ser apresentada de forma muito direta, objetiva, clara, transparente. Durante as ações que o Instituto Brasil África realiza, não apenas o Fórum Brasil-África, mas também outras iniciativas, nós sempre entendemos que aquilo que nós vivemos aqui no Brasil está muito ligado às experiências tradicionais africanas", sintetiza.

Brasil e África no âmbito das relações exteriores

O Brasil atualmente vive um processo de reconstrução dos laços no âmbito das relações internacionais com o continente africano, conforme explica Anselmo Otavio, professor de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

"As relações do Brasil com a África durante Lula 1 e Lula 2 foram muito intensas, depois perdem força. Durante o governo Bolsonaro elas perdem mais força ainda, e voltam agora", argumenta o especialista sobre o momento entre as partes.

Ele destaca, nesse âmbito, algumas iniciativas que indicam essa retomada, como a defesa incisiva do Brasil da entrada da União Africana no G20.
Além disso, ele destaca projetos educacionais, como o PEC-G e o PEC-PG, voltados para a graduação e a pós-graduação, respectivamente, e que permitem a estudantes do continente africano estudar no Brasil, como um elo forte entre Brasil e África.
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"Tirando o âmbito educacional, a gente ainda percebe que o Brasil busca agora ter um interesse maior em reconstruir essa maior parceria com o continente africano no âmbito econômico", acrescenta, destacando iniciativas para encontrar novos mercados.

O hiato citado pelo especialista gerou uma perda de espaço do Brasil no continente africano, região de grande disputa entre potências emergentes e potências tradicionais pelas oportunidades que oferece.
Para Otavio, o Brasil, no que diz respeito a investimentos em infraestrutura, já não pode competir com a força da China no continente, mas pode atuar em campos diplomáticos, em programas de apoio ao combate à fome e à pobreza no continente.
Ao mesmo tempo, segundo ele, o Brasil pode fazer com que esse combate "se torne algo dentro do sistema internacional, dentro da governança global", podendo, assim, conseguir "ganhar um maior engajamento de países africanos também para os objetivos brasileiros".
Entretanto, para obter sucesso nas parcerias sugeridas, o analista defende que haja continuidade nos programas adotados.

"Não adianta seguir um caminho por quatro anos e ficar oito anos ou 12 anos distante de um continente porque ele passa por transformações. […] É preciso ter uma política contínua dentro de um continente que cada vez mais ganha relevância no âmbito global", orienta Otavio.

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