O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, revelou, em uma entrevista à Sputnik, os vetores da política que o Brasil pretende desenvolver em sua próxima presidência do BRICS e no cenário mundial em transformação em geral.
Ampliação do BRICS: critérios para candidatos
Segundo o chanceler, o Brasil, durante sua presidência, quer seguir a linha atual que a Rússia, como atual presidente do agrupamento, exerce, aumentando os participantes do grupo.
Vieira disse que a posição brasileira na questão da expansão do BRICS permanece a de que todos os países que querem virar parte do grupo devem acatar os critérios dos países-membros atuais.
"É uma questão de coerência e de promover uma expansão que fortaleça o BRICS politicamente como voz influente no mundo", ressaltou.
Para alcançar esse objetivo, como uma das prioridades das discussões às margens da cúpula, Vieira considera o desenvolvimento e o estabelecimento desses critérios.
Um dos critérios a serem acatados, segundo o desejo brasileiro, é o da defesa da ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), o que permitiria fortalecer as posições do BRICS e de todo o Sul Global no cenário mundial.
Vieira lembrou que na última cúpula do BRICS, em Joanesburgo, as delegações concordaram que o Brasil, a África do Sul e a Índia deviam ter o direito de ocupar vagas em caso de ampliação do CSNU.
"Nossa posição é a de que a manifestação dos líderes, neste e em outros assuntos relevantes, deve orientar o processo de ampliação", enfatizou.
Tocando o tema da desdolarização e uso de moedas nacionais no comércio dentro do BRICS, o chanceler disse que, embora a questão precise de tempo para se desenvolver, o assunto "desperta grande interesse no presidente Lula, e o Brasil é favorável a que essa nova modalidade fique à disposição".
Ele confirmou que as experiências do Brasil mostraram que há uma possibilidade de realizar essas ideias.
Amigos da Paz e sua capacidade de resolver conflitos
Anteriormente, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse que a China, o Brasil e outros países do Sul Global com ideias semelhantes pretendem criar a plataforma aberta Amigos da Paz para resolver a crise ucraniana.
Apesar de o assunto não estar na agenda oficial da cúpula, Vieira disse que está pronto para apresentar as ideias principais da proposta.
Porém agora não é o tempo próprio para organizar uma reunião da plataforma, já que é preciso tempo para ela atrair novos países que a avaliariam.
"Qualquer esforço bem-sucedido de abertura de diálogo depende da aceitação pelas partes diretamente envolvidas no conflito", acrescentou.
Quando perguntado sobre a possibilidade de participar na solução do conflito no Oriente Médio, Vieira sublinhou que, embora todas as tentativas de cessar-fogo em Gaza e no Líbano tenham falhado, a posição brasileira continua sendo a solução de dois Estados, um palestino e um israelense, estabelecida pelas Nações Unidas, como única fórmula para a paz na região.
Consequências das eleições nos EUA
O Brasil não tem preocupações sobre os resultados das próximas eleições nos Estados Unidos.
Segundo ele, as relações entre os EUA e a América Latina têm sido formadas durante longo tempo e "são também maduras e muito sólidas", com grande envolvimento das sociedades dos países.
Elas não dependem apenas do líder em exercício, e por isso Vieira disse não esperar alguma mudança radical nas relações entre a região sul-americana e o país norte-americano.