Panorama internacional

Favoritismo de Milei por Trump reflete interesse 'no apoio de Washington e do FMI', diz analista

O então candidato presidencial da coalizão Liberdade Avança, Javier Milei, discursa durante a exposição anual da Sociedade Rural, em Buenos Aires, Argentina, 24 de julho de 2023
A disputa entre Kamala Harris e Donald Trump é motivo de preocupação para o presidente argentino, que tem manifestado publicamente o seu favoritismo pelo republicano, considerado por Milei uma referência como figura global, disse um especialista à Sputnik.
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Na reta final das eleições norte-americanas, o presidente argentino Javier Milei tem dividido sua atenção entre Buenos Aires e Washington, que constitui um marco de primeira grandeza para seu governo, profundamente alinhado com a Casa Branca na política externa. A disputa eleitoral entre Kamala Harris e Donald Trump levanta questões sobre o potencial impacto dos resultados das eleições no país sul-americano.
Durante três décadas, os EUA foram um dos maiores parceiros comerciais de Buenos Aires. Desde 2013 Washington é um dos cinco primeiros destinatários das exportações argentinas. Mas, além disso, o gigante norte-americano tem sido o país mais visitado por Milei: seis das 14 viagens ao exterior que fez no seu primeiro ano de mandato foram aos Estados Unidos. Milei chegou a declarar seu favoritismo por Trump inúmeras vezes, classificando-o como o "político mais relevante do planeta".

"As eleições são muito importantes porque os Estados Unidos continuam sendo a principal potência do mundo, mesmo em meio ao forte declínio que atravessam. As eleições são um assunto de grande relevância na região, e especialmente na Argentina", disse à Sputnik o analista internacional Gabriel Merino.

"Não creio que a relação com os Estados Unidos vá mudar drasticamente, mas haverá diferenças. Por exemplo, se uma vitória de Trump levar à implantação de uma política externa protecionista, isso poderia afetar a economia internacional e levar a uma recessão. O triunfo de Harris na busca do multilateralismo significaria manter uma situação semelhante à atual", observou o sociólogo.
A ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, participa de uma coletiva de imprensa na casa do governo La Casa Rosada, com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em Buenos Aires. Argentina, 23 de fevereiro de 2024
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Segundo o especialista, o governo argentino não é imparcial. "Milei aposta todas as suas fichas em Trump porque acredita que poderá fortalecer tanto o seu governo como a sua liderança regional nos setores da nova direita. O republicano poderá constituir uma peça-chave na forma libertária de ver o mundo", destacou Merino.

No entanto, o analista destacou que — apesar da afinidade pessoal entre os dois — as suas práticas governamentais apresentam diferenças: "Trump não expressa as mesmas ideias que Milei, para além do fato de haver pontos em comum na forma como a liderança é construída".

Para o analista internacional Gonzalo Fiore Viani, "nem tudo é tão linear: o candidato republicano procura uma política fortemente protecionista, ao contrário do libertário, que declarou publicamente que o seu objetivo é destruir o Estado e liberalizar absolutamente a economia".
Para a Argentina, olhar para Washington significa olhar para o governo dos EUA, mas, sobretudo, para o Fundo Monetário Internacional (FMI), organização com a qual o país sul-americano mantém uma dívida colossal de US$ 45 bilhões (cerca de R$ 264 bilhões), a maior na história da instituição.
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Com participação de 17% no FMI, os Estados Unidos são o principal acionista da entidade e o único país com poder de veto na organização. Desta forma, um vínculo amigável com a Casa Branca é concebido como uma ferramenta potencial para uma melhoria nas condições com o credor multilateral.

"Grande parte do sucesso do Milei dependerá do apoio de Washington e do FMI, e a expectativa do governo é que uma vitória de Trump ajude a pressionar a conclusão de um novo acordo que inclua novos desembolsos de fundos", disse Merino. Segundo o sociólogo, a concessão de um novo crédito para a Argentina "poderia reforçar o programa econômico ao fornecer uma boa base para a acumulação de reservas".

Para Fiore Viani, a questão é tudo menos linear: "A Argentina tem uma dívida enorme com o FMI e não vejo um cenário em que o Fundo concorde em emprestar mais dinheiro nestas condições. Talvez as condições possam ser melhoradas", disse ele.
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