A China tem "poderosas contramedidas" prontas para atingir os interesses dos EUA a qualquer momento, se o presidente eleito Trump desencadear uma nova guerra comercial contra Pequim, disseram assessores chineses, analistas de risco e especialistas em comércio ao Financial Times, indicando que a arquitetura jurídica que a China tem à sua disposição inclui medidas muito mais poderosas do que há oito anos.
"Este é um processo de duas vias. A China, naturalmente, tentará interagir com o presidente Trump, de qualquer maneira, tentará negociar. Mas se, como aconteceu em 2018, nada puder ser alcançado através de negociações e tivermos que lutar, defenderemos firmemente os direitos e interesses da China", disse Wang Dong, diretor do Instituto para a Cooperação e Compreensão Global da Universidade de Pequim.
Ao contrário da última vez, as opções de retaliação da China agora incluem uma poderosa "lei contra sanções estrangeiras" aprovada em 2021, que permite contramedidas de retaliação contra uma ampla gama de atores e ações que a China considera como prejudiciais.
Além disso, há medidas de controle das exportações da China - continuamente atualizadas e expandidas, permitindo que Pequim - o maior produtor de metais de terras raras, restrinja as exportações desses recursos críticos para países hostis.
"Continuo dizendo aos nossos clientes: 'Você acha que avaliou o risco geopolítico da guerra comercial entre os EUA e a China, mas não o fez, porque a China ainda não retaliou seriamente'", disse o especialista nos assuntos chineses da consultoria Control Risks, Andrew Gilholm.
Com a administração de Biden seguindo elementos da política de Trump em relação à China, até agora Pequim usou apenas "flechas", ao invés de artilharia pesada, disse um ex-alto funcionário dos EUA na condição de anonimato.
O gigante asiático também poderia usar medidas comerciais transversais dos EUA para aumentar as exportações e importações de e para outros grandes mercados, dizem os observadores.
"Se outras grandes economias começarem a ver os EUA como um parceiro comercial pouco confiável, eles podem procurar cultivar laços comerciais mais profundos com a China em busca de mercados de exportação mais favoráveis", disse o analista Joe Mazur.
A política antagônica de Trump em relação ao comércio com amigos e aliados é derivada de sua visão, expressa pelo menos desde meados dos anos 1980, de que os EUA foram afetados no comércio e sofreram desindustrialização devido, em grande parte, a uma política comercial unilateral e prejudicial que favorece os países exportadores.