O presidente da Argentina, Javier Milei, aliado e admirador do recém-reeleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou bloquear um comunicado conjunto que será endossado pelos líderes do G20 na reunião do Rio de Janeiro que começa na segunda-feira (18), segundo fontes diplomáticas ouvidas pelo Financial Times (FT).
Na crítica de Milei estavam objeções relacionadas à tributação dos super-ricos e à igualdade de gênero, pautas caras aos movimentos conservadores ao redor do mundo.
De acordo com a apuração, os diplomatas vêm trabalhando para encontrar consenso nesses temas e as negociações para o fechamento do comunicado se desenrolaram até a manhã de hoje (17). Um dos pontos centrais de debate ainda permanece sendo quanto os países em desenvolvimento têm de contribuir para a economia global no sentido do combate às mudanças climáticas.
A ameaça de um veto de Milei aumentou as preocupações de muitos diplomatas, que pensam que o retorno de Trump à Casa Branca possa significar uma espécie de chamamento a um conjunto de comportamentos de base conservadora que possam acabar acarretando no retrocesso de uma série de pautas, especialmente na área do clima e de costumes.
Segundo revelou uma autoridade brasileira à apuração, o governo argentino está testando as forças antigas e novas através do G20 no Brasil. "Após um ano de negociações sobre tributação e consenso, eles estão criando problemas em coisas que aceitaram antes, palavra por palavra", revelou a fonte.
A postura assumida pela equipe de Buenos Aires acontece logo após o encontro do presidente argentino com o futuro homólogo norte-americano na última quinta-feira (14), o primeiro encontro de Trump com um líder estrangeiro após ter saído vitorioso no pleito. Não obstante, a Argentina se retirou das negociações na COP29 após contato com Trump.
A reeleição de Trump tem levantado múltiplas questões geopolíticas relevantes, como o futuro dos conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia, a região da Ásia-Pacífico e o comércio mundial, mas para muitos analistas suas declarações públicas associadas à vitória de seu projeto político soaram como um "apito de cachorro" para a coordenação conservadora de direita ao redor do mundo.
"Então, todo esse trabalho que fizemos com os EUA [sob Biden] — o que faremos com ele agora?", disse um diplomata sênior europeu sob condições de anonimato ao FT. "Perdemos a iniciativa. [...] Biden sempre tentou nos consultar o máximo possível, Trump seguirá seu próprio caminho", concluiu.