"Nunca antes, em nenhum encontro desde 2008, essas pautas haviam sido levantadas com tanta visibilidade. E a proposta de taxação dos ultrarricos e um possível reinvestimento dessa tal taxação em projetos que possivelmente diminuam cenários de fome no mundo é uma proposta enorme", opinou.
"Traz a sociedade civil, e ela vinha sendo apartada dos mecanismos de governança global, pelo menos desde a crise de 2008. Nos anos 2000 havia toda uma presença da sociedade civil na OMC [Organização Mundial do Comércio], na ONU [Organização das Nações Unidas], mas isso foi caindo ao longo do tempo, então também se for mantido para os próximos encontros do G20, é um legado interessante", comentou Vieira.
"Um maior desengajamento por parte dos EUA pode acelerar a fragmentação da ordem global atual, privilegiando agendas bilaterais e regionais em detrimento de fóruns globais mais amplos, como o próprio G20."
"Embora os três eixos apresentados pelo país — desigualdade, fome e meio ambiente — sejam pouco controversos, o maior mérito foi a capacidade de neutralizar o contraditório", destacou Lemos.
Bastidores do G20
"A inauguração do megaporto chinês no Peru e a visita de Xi Jinping [presidente da China] a Brasília, por exemplo, ilustram o fortalecimento da presença da China na América do Sul. Outro ponto de destaque foi a liberação dos EUA para que a Ucrânia use mísseis de longo alcance contra a Rússia, evidenciando como as grandes potências aproveitam a visibilidade de encontros como o G20 para projetar mensagens geopolíticas estratégicas", disse Lemos.
"Realmente, o G20 acaba servindo de oportunidade para reforçar esse relacionamento bilateral. Mas o interesse é justamente talvez por conta desse relacionamento bilateral, material, econômico, que os países-membros do grupo continuam a fazer interações entre si."
"O G20 é um multilateralismo possível, com algum grau de flexibilidade, reunindo as principais economias do mundo em uma complementação aos mecanismos que estão obsoletos, como a própria ONU, o Banco Mundial e o FMI [Fundo Monetário Internacional]", opinou ele.
"Quando a gente vai observar as guerras no Oriente Médio, elas têm esse viés de disputa por influência política regional, justamente para facilitar a concessão de petróleo. E esta é a tendência nos próximos anos: que se acirre a disputa por esse recurso energético não renovável entre as grandes potências em muitas regiões do mundo."