"Primeiro porque essa prisão depende do preenchimento de vários requisitos legais, e não é tão fácil o preenchimento desses requisitos. Em segundo lugar, nós sabemos que ele é um agente político, ele é um personagem político. A gente vive uma polarização no nosso país, e ele representa metade da polarização do país. Então uma prisão processual neste momento, sem muito substrato, daria margem a inúmeros questionamentos e daria margem a nós esquentarmos ainda mais a situação política do país", ponderou o pesquisador, ao opinar que o Judiciário não quer esse desgaste.
"Há elementos fortes, até por ele ser ex-presidente, e considerando também que a gente já teve uma prisão de um ex-presidente em 2018, com certeza houve um cuidado muito maior, inclusive pensando em potenciais danos caso, por exemplo, fosse decretada uma prisão de um ex-presidente. Então para [isso] vir a público, para ser incluído de forma pública, não apenas ele, mas vários nomes ligados diretamente ao presidente, é porque há indícios, há evidências fortes que levaram a esse resultado", disse a cientista política.
"Serão reanalisadas todas as provas, serão ouvidas todas as testemunhas, serão interrogados todos os acusados, para que aí o Supremo determine de forma colegiada, porque é um órgão colegiado, se eles são inocentes ou culpados", disse o especialista em direito constitucional, ao explicar que esse processo é demorado.
"Acho que esse desgaste, inclusive jurídico, dele [Bolsonaro] já está posto", declarou, ao cogitar que o atentado contra o STF com bombas de fabricação caseira, que culminou no suicídio do autor, acelerou a divulgação do inquérito. "Aquilo [o atentado] trouxe, sim, um temor de que circunstâncias como essa acabassem escalando, acabassem ganhando força", disse.
"Vejo que a gente pode retomar uma situação que a gente tinha até 2014, uma disputa polarizada em termos de projetos e em termos de partido. Então a gente deve retomar, diferentemente do que aconteceu a partir de 2018, quando houve uma personalização das disputas nacionais e [a eleição ficou] muito mais radicalizada pelo próprio discurso, pelas novas pautas que entraram no debate, principalmente de questões de valores e muito menos de projeto de Estado do Brasil."
Afinal, declarar plano de matar é crime?
"O pensar em matar alguém está inserido nesta tal cogitação. E a cogitação, a rigor, ela não é responsabilizada. Mas esse matar aí, que a gente está discutindo nesse caso, ele é um matar que não é um homicídio puro e simples […]. Esse matar é uma etapa para um eventual golpe de Estado, para uma eventual extirpação dos poderes constituídos, do Estado Democrático de Direito."