"Os países ficaram responsáveis por estabelecer o seu mercado de carbono, conforme estabelecido pela Convenção de Mudanças Climáticas. O Brasil é um país que acredito estar bem posicionado, principalmente se fosse incluído o setor da agropecuária e o uso da terra. Só que é algo ainda não estabelecido, mas há toda uma negociação avançando. O país poderia vender ainda mais créditos, evitando o desmatamento de florestas e reflorestando áreas que foram desmatadas. Só que é um setor que também está fora de um mercado regulado, o que é um ponto negativo. E outros países do BRICS também têm condições de fazer isso, como a Rússia, considerada em âmbito global um sumidouro de carbono por conta da alta capacidade de absorção das suas florestas", explica ao podcast internacional da Sputnik Brasil.
Quais países são mais poluidores?
"A China, hoje, é a maior emissora de gás de efeito estufa do mundo, ainda que em termos per capita essas emissões caiam significativamente. Só que também é um país que tem avançado bastante no âmbito doméstico em termos das políticas de combate às mudanças climáticas, de redução das emissões. Ela [a China] tem objetivos internacionais de alcançar o pico das emissões de gás de efeito estufa até 2030 e a neutralidade de carbono até 2060. E a gente vê alguns dados que a China publica que provavelmente vai alcançar o pico dessas emissões já no ano que vem. Além disso, antecipou em vários anos as metas de participação de energia solar e eólica na sua matriz."
Quais os impactos do BRICS?
"Um ponto que converge todos os países do BRICS é a reforma das instituições multilaterais, especialmente pela ótica financeira. Mas tem uma parte do documento que reforça a necessidade de cumprimento das metas do Acordo de Paris, a necessidade de uma resposta coletiva para lidar com a crise climática e a importância de implementar os objetivos de desenvolvimento sustentável. Então as declarações mostram que esse é um tópico importante, mas dos cinco fundadores, o Brasil é um país que tem um perfil de emissões diferenciado. A dependência de combustíveis fósseis, principalmente no setor de energia, limita uma política de carbono zero única para o grupo", acrescenta.
"O bloco acaba se propondo como um eixo de articulação do Sul Global, e quanto mais países entrarem, mais vai facilitando a coordenação de ações [como combater as mudanças climáticas], até porque os membros também participam de diferentes blocos. Existe uma grande participação dos países do BRICS em diferentes fóruns internacionais, isso ficou muito claro quando a gente observa o G20. E eles também têm uma certa condição natural para coordenar essas iniciativas", frisa.