Panorama internacional

OTAN mostra tendência de incorporar novas regiões e aderir mais às prioridades dos EUA, diz analista

"O Ocidente corre para armar Kiev antes da posse de Trump", disse a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, nesta quarta (4), enquanto o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte, insiste em focar a missão da aliança militar em enviar mais armas para a Ucrânia.
Sputnik
A reunião ministerial da OTAN aconteceu ontem (3) e hoje, na sede da organização, em Bruxelas. Durante as coletivas de imprensa, Rutte foi incisivo em ressaltar que a organização tem a intenção de deixar a Ucrânia em posição de força, salientando a necessidade de enviar mais recursos militares a Kiev.

"Precisamos fazer mais do que apenas manter a Ucrânia na luta. Precisamos fornecer suporte suficiente para mudar a trajetória desse conflito de uma vez por todas", disse o secretário-geral na reunião de hoje.

Outro assunto que retornou à ordem do dia com Rutte foi o investimento dos países-membros na aliança ocidental. O secretário-geral voltou a dizer que, para manter as atividades da OTAN no mesmo nível para o próximo ano, os 2% do produto interno bruto (PIB) de cada país que vão para os cofres da organização serão insuficientes.

"Eu já disse antes, não por causa de Trump, mas acredito fortemente, e sei que muitos aliados acreditam fortemente, que 2% simplesmente não é o suficiente. Simplesmente não é o suficiente, se a longo prazo quisermos manter nossa dissuasão no nível em que está agora. Agora está tudo bem. Agora podemos nos defender e ninguém deve tentar nos atacar", afirmou Rutte.

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A representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, por sua vez, afirmou durante coletiva que o Ocidente está correndo para aumentar o fornecimento de armas para Kiev antes da posse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, para garantir que o conflito na Ucrânia se arraste durante 2025.

"[O Ocidente] Está apostando em uma escalada ainda maior, tentando inflar o regime de Kiev com o máximo de armas possível antes que o novo presidente dos EUA tome posse, garantindo assim a continuação das hostilidades em 2025", rebateu.

Zakharova destacou ainda que a Ucrânia deve receber até 150 mísseis de longo alcance do Reino Unido e da França, bem como sistemas de lançamento dos Países Baixos.
Na segunda-feira (2), o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, anunciou um pacote de ajuda militar de US$ 725 milhões (R$ 4,3 bilhões) para a Ucrânia, que inclui minas antipessoais.
Para Clarissa Nascimento Forner, professora de relações internacionais da Universidade São Judas Tadeu (USJT), da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e do Centro Universitário FMU, a lógica de ampliação dos gastos sugere uma maior inclinação à militarização dessa presença regional.

"Chamam atenção, em mesma medida, as menções realizadas não só em relação à Rússia, mas também à China e ao Irã, o que sugere a manutenção da tendência de incorporação de novas regiões (como o Oriente Médio e a Ásia) ao escopo de atuação da OTAN e também uma adesão cada vez maior da organização às prioridades estratégicas individuais dos EUA, que têm direcionado sua atuação para essas regiões nas últimas décadas", argumenta a professora.

Rutte insistiu, durante a coletiva, que Rússia e China "tentaram desestabilizar os nossos países e dividir as nossas sociedades".
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Em relação à posse de Trump, Forner acredita que a chegada do novo presidente adiciona um elemento de incerteza e insegurança em relação ao futuro da OTAN no conflito. Entretanto, segundo a analista, a desvinculação dos EUA da aliança não é imaginável, assim como não aconteceu no primeiro mandato trumpista.

"Mas há uma possibilidade de que observemos comportamentos mais unilaterais da parte dos EUA, o que pode ocasionar choques e fragmentações", analisa.

Ucrânia mais perto ou mais longe da OTAN?

Questionado sobre o posicionamento da organização sobre a adesão oficial da Ucrânia, Rutte disse hoje que há a promessa e que a ponte entre a OTAN e Kiev está sendo construída, mas que os aliados concordam que a primeira, segunda e terceira prioridades no momento "devem ser que a Ucrânia esteja nessa posição, que eles possam começar as negociações dessa posição de força com os russos".
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Na esteira das afirmações de militarização de Kiev para assim chegar a um acordo, Zakharova contestou o intuito do Ocidente.

"Que tipo de reforço do regime de Kiev, com armas e dinheiro, deveria levar a algum tipo de melhoria nas posições de negociação?"

De acordo com Forner, as afirmações do secretário-geral da OTAN não aparentam mudança de interesses ou de posicionamento da organização. Além disso, para a especialista, é evidente que a iniciativa de maximizar os ativos militares ucranianos tem como intuito "pressionar geopoliticamente a Rússia e expandir a influência da organização não apenas na Ucrânia, mas nas regiões estratégicas da Eurásia".
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