"Vimos um processo de vários países do continente como um todo na busca por maior integração econômica, de implementação da área de livre comércio africana, além da discussão sobre sistemas de pagamento que permitam um processo maior de interação nas cadeias produtivas globais. Certamente, para nós aqui do continente foi um ano de bastante significância com relação ao papel e à voz da África no contexto internacional e que, de certa forma, a continuidade desse processo nos próximos anos vai fazer a região se ver de uma forma mais singular", enfatiza.
"Ou seja, se um desses países for atacado, é como se os três estivessem sendo atacados. Isso passa a mensagem de que estão coesos […]. E a França, é claro, sai muito prejudicada, o que inclusive obrigou [o presidente Emmanuel] Macron a fazer uma coligação para se manter no poder. O fato é que cerca de 80% da energia francesa é produzida por via do urânio, que sai efetivamente do Níger. E o Níger é exatamente esse país que lidera a taxa de crescimento [no continente], depois de a França sair do país. Isso mostra que está mais do que na hora de os africanos caminharem com as próprias pernas", defende.
Como funciona a economia na África?
"Vou apenas citar aqui alguns países que tiveram um crescimento econômico muito superior a países da Europa, como o Níger, que cresceu 11,2%. O Senegal cresceu 8,2%. A Etiópia cresceu 7,6%. Ruanda cresceu 7,2%. A Costa do Marfim, 6%. Etiópia, Benin, Djibouti, Tanzânia, Togo, Uganda, todos cresceram acima dos 6%. E os países que mais cresceram na África foram aqueles países que se afastaram do FMI, ao contrário, por exemplo, da Angola, que aumentou as relações e está à mercê de um auxílio técnico do FMI. Mas, em 2024, terá crescido menos de 3%", exemplifica.
Qual a relação entre Brasil e África?
Eleições históricas na África do Sul
"Apesar disso, após as eleições vimos uma estabilidade desse novo governo, com um processo de tranquilização da população, além do fortalecimento de narrativas que gerem crescimento econômico. Obviamente ainda estamos no primeiro ano dessa coalizão, mas vemos medidas que mostram o país saindo de uma década complicada, que foi a de 2010, com muitas divisões", finaliza Gustavo de Carvalho.