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Comunicação é 'chavão geral'; problemas do governo Lula são bem mais profundos, dizem analistas

Recém-chegado à Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal, Sidônio Palmeira já se deparou com o tamanho do desafio que terá que enfrentar. Em um fracasso de comunicação, uma portaria do Ministério da Fazenda aprofundou a crise de imagem do governo e do ministro Fernando Haddad.
Sputnik
Desde que o governo federal decidiu aplicar impostos sobre importações de até US$ 50 (R$ 298,3) — já previstos em lei, mas raramente exercidos —, a oposição aproveita cada oportunidade para criticar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros.
Conhecida como "taxa das blusinhas", em referência às compras de roupas de lojas virtuais chinesas, a medida rendeu o apelido de "Taxad" em referência ao ministro da Fazenda, que tem sido o principal alvo dos opositores. Eles veem em sua pasta esforços insuficientes para cortar gastos, ainda que se recusem a limitar as emendas parlamentares.
Não é à toa que, recentemente, uma crise de imagem do governo tenha feito o ministério reverter uma decisão técnica após temores serem espalhados de que o governo estaria se preparando para taxar as transações por Pix.
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Esse cenário de fracasso comunicacional do governo, que falhou em prever e em combater as propagandas de opositores, foi herdado por Sidônio Palmeira, novo ministro da Secom.
Em falas, o publicitário responsável pela campanha presidencial de Haddad em 2018 e de Lula em 2022 afirmou que seu objetivo é alinhar "o governo, a gestão e a percepção popular". "É um papel e uma obrigação do governo mostrar o que foi feito."
Para melhorar a comunicação do governo, Sidônio pediu às pastas ministeriais que desenvolvam marcas para seus feitos e está de viagem a Recife para se encontrar com a equipe de comunicação do prefeito João Campos — um caso de sucesso no uso das redes sociais.
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À Sputnik Brasil, contudo, especialistas afirmam que o trabalho do novo ministro pode ser mais difícil do que ele deixa aparentar.
"A Secretaria de Comunicação tem o papel institucional de fazer as realizações e os serviços do governo chegarem na população", afirma à reportagem Marcelo Vitorino, consultor de marketing político, "mas atentando para as regras que estão na Constituição Federal, de promover uma comunicação informativa e impessoal, com utilidade pública."
Segundo o especialista, a comunicação do governo poderia estar melhor direcionada e mais alinhada à cultura da população. "O principal desafio é o entendimento do que é a comunicação hoje, que é distribuída em muitos canais e com públicos segmentados."

"O público que acessa a Internet pode assistir televisão e ouvir rádio, mas quer um tipo de conteúdo adequado para cada meio."

Da mesma forma, é preciso encarar os sucessos midiáticos de João Campos e de outros gestores, como João Henrique Caldas (Maceió) e Topázio Neto (Florianópolis), como acertos de uma política personalista.
"É muito difícil usar o mesmo tipo de comunicação para institucional", explica Vitorino. "Dias atrás, por exemplo, o Banco Central publicou um vídeo em formato de meme que foi muito mal recebido por seguidores."

"Quando pensamos em comunicação institucional, a busca pela audiência orgânica das redes mostra imaturidade no entendimento sobre a dinâmica das redes, que privilegia conteúdos mais polêmicos e divertidos, coisa que raramente podemos fazer na comunicação de governos."

Vitorino vê como um "acerto" a escolha técnica de Palmeira para o comando da pasta, mas se diz preocupado pelo entendimento dos líderes de que a "batida perfeita" da comunicação são as redes sociais. "Pode ser um sinal ruim do que vem pela frente."
Jorge Chaloub, professor de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta em entrevista à reportagem que limitar o problema do governo apenas à comunicação é um eufemismo. "A comunicação virou um chavão geral para dar conta de questões que são mais fundas."
Para o cientista político, há hoje uma percepção social muito negativa sobre o papel do Estado e, a partir dela, a oposição se mostra "disposta a tudo" para derrubar o governo. "E isso não vai mudar com comunicação."

"O desafio é como lidar com o padrão de disputa política em que, sobretudo no campo da direita, tem prevalecido o vale tudo."

Já a cientista política e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) Clarisse Gurgel afirma à reportagem que muitos dos problemas encontrados pelo governo Lula resultam de sua recusa em adotar "medidas simples" pelas quais recebeu o voto dos brasileiros, como o estoque regulador de alimentos, "que garantiriam a redução dos preços de itens básicos do dia a dia do povo, que reduziriam a enorme carestia em que seguimos."
"Se o governo Lula entendesse isso, compreenderia que a melhor comunicação que fará será a de politizar o povo brasileiro."
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