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Mirando 2026, Lula faz 'feirão' com prefeitos buscando projeção nos municípios, diz analista (VÍDEO)

Em entrevista à Sputnik Brasil, cientista política analisa o encontro de Lula com prefeitos, majoritariamente do centrão e da direita, e afirma que a expectativa é que o governo federal, em posição de desvantagem, vá ceder a demandas em busca de capilaridade nos municípios.
Sputnik
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início, nesta terça-feira (11), ao Encontro com Novos Prefeitos e Prefeitas, que está sendo realizado no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, e terá duração de três dias.
Segundo informou o Palácio do Planalto, o evento é uma oportunidade de aproximar as prefeituras dos programas do governo federal para fortalecer o pacto federativo. A medida se torna especialmente crítica tendo em vista que as eleições municipais de 2024 deram vitória majoritária a partidos do centrão, sobretudo do PSD e do MDB, e da direita.
"Queremos, com apoio dos municípios, identificar onde é necessário investir. Nossa prioridade é a população e suas demandas. Queremos ampliar os investimentos, dar continuidade ao trabalho já em andamento e celebrar novas frentes de investimentos", afirmou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Clarisse Gurgel, cientista política e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), afirma que o encontro é uma tentativa de Lula de estreitar laços em um cenário no qual seu governo "parece estar sem retaguarda".

"Esses encontros que o governo Lula, esse terceiro governo Lula, tem promovido, eles têm assumido um caráter que a gente poderia chamar de superestrutural. A gente pode dizer que, em grande medida, o governo Lula, ao contrário das tendências mundiais, acabou por burocratizar mais o próprio partido, o Partido dos Trabalhadores, que foi perdendo a penetração e a capilaridade nos municípios, onde a gente percebe que a política tem um caráter ainda mais cotidiano; onde a gente vai encontrar um potencial de enraizamento é justamente nas prefeituras", explica.

Ela afirma que o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, até 2012, foi o que mais teve êxito "na capacidade de hegemonizar, de exercer domínio e direção sobre o Brasil através desses municípios".
"Mas o próprio desgaste da presidenta, os efeitos da crise e as ofensivas da extrema-direita já no governo Dilma foram produzindo também danos, e resultaram aí nessa queda brutal da esquerda no âmbito dos municípios."
Segundo Gurgel, atualmente falta ao governo Lula uma equipe homogênea, com capacidade de unidade teórica e de ação, o que resulta na perda de poder, que, como consequência, está levando à descentralização orçamentária.
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"Esse próprio evento é um evento que inclusive consolida as emendas parlamentares, e nos termos inclusive dos danos que isso provoca para o governo, que é a descentralização orçamentária. Então esse evento que está se dando a partir de hoje é um evento que vai consolidar essa política de descentralização orçamentária, que significa no bojo uma perda de capacidade de poder, uma perda de poder propriamente que passa pelo dinheiro."

Gurgel afirma que hoje quem exerce esse poder de penetração e capilaridade nos municípios são figuras como o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que recentemente fez uma provocação ao PT, criticando a figura que ela aponta ser a possível alternativa do partido para sucessor de Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a quem Kassab chamou de ministro "fraco".
"O Kassab mostra quem é que tem força e quem é que tem capacidade de desestabilizar e também dar a direção e dominar o cenário para as eleições de 2026, que é efetivamente quem tem tido capacidade de capitalização por essa radicalização que a política vai assumindo, de mercado, […] essa condição da política como mercado, e, infelizmente, esse evento que se dá nesses três dias […] é uma espécie de 'feirão', dá sinais para nós das armadilhas nas quais o governo Lula está caindo."
Gurgel avalia que nos próximos três dias de encontro vai haver trocas entre o governo federal e prefeitos que, "em sua maioria, situam-se no campo da direita e da extrema-direita" e vão se sentir à vontade, cientes de que têm um cenário favorável a eles, ao contrário de Lula.

"Então a tendência vai ser o governo ceder mais, seguir cedendo, e infelizmente um trabalho de capilarização anterior a esse evento não foi feito. Deveria ter sido feito no sentido de que os participantes, […] aqueles que vão circular no evento, ajudassem, auxiliassem e acompanhassem o próprio governo Lula na sua capacidade, já que se trata de um 'feirão' de negociação. Porque acho que nem em termos de negociação o governo Lula está em uma posição mais favorável, infelizmente", conclui a cientista política.

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