Ele citou o aprofundamento das tensões geopolíticas, o aumento das desigualdades e as rápidas transformações tecnológicas e econômicas como os principais desafios das estruturas tradicionais de governança.
"Instituições de longa data enfrentam dificuldades para se adaptar, enquanto economias emergentes reivindicam, com razão, um papel mais equitativo na definição de decisões que nos afetam a todos. Nesse cenário em evolução, o BRICS desempenha um papel fundamental na promoção de uma ordem mundial mais justa, inclusiva e sustentável", declarou.
Ao destacar que o BRICS, após sua expansão, de cinco para 11 membros, passou a representar metade da população mundial, 39% do produto interno bruto (PIB) global e metade da produção global de energia, ele frisou que o grupo é fundamental para a construção de um mundo mais justo e inclusivo:
O cerne das discussões da reunião que termina amanhã, destacou o ministro, é redefinir a governança global em sintonia com as realidades do século XXI.
"As instituições mundiais devem evoluir para acomodar perspectivas diversas, garantindo que as nações em desenvolvimento não sejam meros espectadores, mas sim
arquitetos ativos do futuro […] "O BRICS representa uma nova
visão de governança global — uma que prioriza inclusão, equidade e cooperação, em detrimento da hegemonia, injustiça, desigualdade e unilateralismo."
O representante brasileiro ponderou que a ordem internacional pós-Segunda Guerra Mundial, baseada no sistema coletivo de segurança centrado na Organização das Nações Unidas (ONU) e no sistema multilateral de comércio, tem cada vez mais limitações.
Na esfera econômica, o chanceler brasileiro argumentou que
o processo é de "desglobalização",
com políticas protecionistas, fragmentação comercial, barreiras não econômicas e a reconfiguração das cadeias de suprimentos que ameaçam aprofundar as desigualdades globais.
Para mudar isso, ele ressaltou que a reforma da arquitetura financeira é vital: "O BRICS deve continuar avançando em mecanismos financeiros alternativos, como o Novo Banco de Desenvolvimento, que desempenha um papel vital no financiamento de infraestrutura e projetos de desenvolvimento sustentável em economias emergentes."
Ele reafirmou que o trabalho do Brasil na presidência do grupo terá em torno de
seis prioridades: cooperação em saúde global; comércio, investimento e finanças; combate à mudança do clima; governança da
inteligência artificial; reforma do sistema multilateral de paz e segurança; e desenvolvimento institucional do BRICS.
Em relação à inteligência artificial (IA), ele defendeu que o BRICS deve trabalhar para que a governança global de IA seja inclusiva e democrática, e não "ditada por um pequeno grupo de atores, enquanto o restante do mundo é forçado a se adaptar a regras que não ajudou a estabelecer".
No discurso, Mauro Vieira afirmou ainda que a crise climática é o maior desafio na atualidade que se agrava com a falta de financiamento para a mitigação do clima em países em desenvolvimento.
"Apesar de contribuírem pouco para as emissões históricas de gases de efeito estufa, o Sul Global é o que mais sofre com as consequências das mudança do clima — de eventos climáticos extremos à elevação do nível do mar e perda de biodiversidade. Enfrentar essa crise exige não apenas ambição, mas também justiça", defendeu Vieira.
A justiça climática, segundo ele, deve estar no centro das discussões internacionais, garantindo que as nações em desenvolvimento tenham autonomia e recursos para realizar a transição rumo a economias de baixo carbono, sem abrir mão de seus objetivos de desenvolvimento.
Ao longo dos dois dias serão realizadas quatro sessões temáticas, além da sessão de abertura que contará com a participação do ministro Mauro Vieira, e da sessão especial, com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na sessão especial com Lula, além dos representantes dos países-membros do BRICS — Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã —, está prevista a participação dos embaixadores dos países parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.