Esta é avaliação do professor doutor em história, analista internacional e fundador do canal História Militar em Debate, Ricardo Cabral, ouvido pela Sputnik Brasil.
Putin declarou que Kursk deve ser "completamente liberta do inimigo em um futuro próximo", e mencionou a futura criação de uma zona de segurança ao longo da fronteira da região.
O líder russo também declarou que os que se opõem à Rússia em Kursk são terroristas e os mercenários estrangeiros não se enquadram na convenção sobre o tratamento de prisioneiros de guerra.
A visita e as declarações ocorrem um dia depois de a Ucrânia apoiar um cessar-fogo temporário proposto pelos Estados Unidos. Mais cedo, em coletiva de imprensa, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que "a bola agora está com os russos". Já o presidente norte-americano, Donald Trump, disse que uma delegação estadunidense estava a caminho de Moscou para tratar do assunto.
O avanço das tropas russas nos últimos dias também reflete esse posicionamento de Putin de não retroceder diante do anúncio de Trump de retomar a ajuda militar e de inteligência à Ucrânia, frisou Cabral.
Logo, observou ele, o posicionamento russo segue sendo de acordar um cessar-fogo a partir de elementos que o conduzam efetivamente à paz em definitivo, "uma paz com garantias no papel", e que a Rússia se sentará à mesa de negociações com suas propostas originais, sem interferir nas operações em terra e ar.
O especialista, que também é um dos autores do livro "Guerra na Ucrânia: análises e perspectivas: o conflito militar que está mudando a geopolítica mundial", chamou de "armadilha" por parte da Ucrânia o acordo acertado com os EUA, mas adiantou que os russos já previram tal estratégia e se adiantaram.
"Os russos também estão se preparando para uma estratégia para receber oficialmente a proposta de cessar-fogo, fazer um estudo, fazer a sua contraproposta e, a partir daí, negociar."
Segundo ele, nos próximos dias e semanas deve ocorrer uma escalada do conflito, um recrudescimento dos ataques e contra-ataques entre ambas as partes:
"Com essas notícias de uma aceitação da proposta dos Estados Unidos pelos ucranianos, a guerra tende a acelerar. Os russos provavelmente vão fazer mais ataques com tropas em terra e vão usar provavelmente muito mais drones e foguetes contra a Ucrânia. […] a guerra deve escalar antes de as delegações russas e ucranianas sentarem à mesa para negociar a paz. Vou ser muito sincero, acho improvável que a Rússia aceite os termos da proposta de cessar-fogo feita pelos norte-americanos", ponderou.