A guerra comercial entre EUA e China tem se intensificado nos últimos meses, na medida em que o presidente dos EUA tenta estabelecer mecanismos de taxação e aumento de tarifas para punir um de seus principais concorrentes no mercado internacional. Apesar dos apelos de Pequim e outros parceiros de Washington, o cenário permanece arriscado para a economia global.
Trump está elaborando uma nova ordem executiva que dependeria do financiamento de uma proposta do Representante Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês) para aplicar multas de até US$ 1,5 milhão (cerca de R$ 8,4 milhões) em navios fabricados na China ou embarcações de frotas que incluem navios fabricados na China. Essas taxas portuárias potenciais limitaram a disponibilidade de navios necessários para transportar produtos agrícolas, energéticos, de mineração, de construção e manufaturados para compradores internacionais.
De acordo com a apuração da Reuters, proprietários de embarcações já se recusaram a fornecer ofertas para futuras remessas de carvão dos EUA devido às taxas propostas, disse o CEO da Xcoal Energy & Resources, Ernie Thrasher, em uma carta ao secretário do Departamento de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. A implementação dessas taxas pode cessar as exportações de carvão dos EUA em 60 dias, colocando US$ 130 bilhões (mais de R$ 736,2 bilhões) em remessas em risco e adicionando até 35% ao custo de entrega do carvão dos EUA, minando sua competitividade no mercado global.
Comentários de representantes do setor agrícola norte-americano também têm mostrado que as taxas propostas vão ter impactos tangíveis, que não haviam sido relatados anteriormente. As minas de carvão na Virgínia Ocidental também estão se preparando para demitir mineradores, pois os estoques de carvão não vendidos estão se acumulando, disse Chris Hamilton, CEO da West Virginia Coal Association.
As taxas propostas também podem dificultar a exportação de outros produtos energéticos pelos EUA, como petróleo, gás natural liquefeito (GNL) e combustíveis refinados, segundo o American Petroleum Institute. A proposta do USTR busca transferir as exportações domésticas para navios que sejam tanto de bandeira quanto construídos nos EUA, mas a frota atual de navios de carga com bandeira dos EUA é inferior a 200, e nem todos são construídos nos EUA.
Pouquíssimos operadores marítimos devem conseguir documentar que sua participação anual nas exportações dos EUA atende aos 20% exigidos transportados em embarcações construídas nos EUA e com bandeira dos EUA, disse a associação de transporte BIMCO. Isso poderia reduzir significativamente as exportações de energia dos EUA, especialmente gás natural liquefeito (GNL), já que nenhum transportador de GNL construído nos EUA e com bandeira dos EUA está em operação ou encomendado.
Ainda de acordo com a Reuters, os fazendeiros dos EUA, que já estão sendo afetados por tarifas retaliatórias da China, México e Canadá, também estão presos no fogo cruzado. Segundo a Federação Americana de Agências Agrícolas, a incapacidade de garantir o transporte de carga marítima a partir de maio, restringiu sua capacidade de vender produtos agrícolas dos EUA a granel, como milho, soja e trigo, porque os exportadores não têm certeza de qual seria o custo final.