"O Banco Central não controla os preços do petróleo ou dos alimentos, mas consegue, por meio da taxa de juros, resfriar o mercado de crédito que financiaria o investimento e o consumo. O impacto eleitoral tende a ser por meio de uma economia mais desaquecida e com o aumento no desemprego promovido pelo ciclo de alta de juros", explica.
"A gente não pode esquecer que a taxa de juros é, antes de tudo, um conflito distributivo entre pessoas que emprestam e que tomam o dinheiro emprestado. Quanto mais pobre, mais as pessoas tendem a ter dívidas e mais elas pagam de juros com o aumento da Selic. Igualmente importante é a transferência da riqueza pública para o setor financeiro, pois o Estado é pagador de dívidas. Se piora para alguns, como o Estado e os trabalhadores, é porque melhora para outros — em particular, o setor financeiro comprador dessas dívidas", afirma.
"Hoje, toda a economia, o consumo, o investimento e, inclusive, o setor externo sofrem muito com o impacto das suas decisões [do Banco Central]. Por outro lado, se a economia vai mal, não é o Banco Central que é responsabilizado, é o governo. Para mim, isso significa que o problema da inflação é muito mais complexo e uma questão de Estado, não de Banco Central."
"Lula poderia reordenar as prioridades de mercados para diminuir a sensibilidade dos nossos preços ao mercado internacional e desenvolver políticas públicas que visem a segurança alimentar e energética do Brasil como formas mais complexas de combater a inflação nas próximas décadas, inclusive com a agricultura familiar do Movimento [dos Trabalhadores Rurais] Sem Terra [MST] que, mesmo de baixo orçamento, possui impacto local e regional. Embora seja uma possibilidade, essa alteração de prioridades é remota diante da correlação de forças com poder decisório no Brasil, não depende só da vontade de um político", conclui o especialista.