O analista militar e autor do livro "Guerra na Ucrânia: o Conflito Militar que Está Mudando a Geopolítica Mundial", Rodolfo Laterza, afirmou à Sputnik Brasil que essa é mais uma
demonstração de Putin de tentar resolver o conflito ucraniano de forma "clara e objetiva",
incluindo para os Estados Unidos, que desde o retorno do presidente Donald Trump ao poder têm buscado mediar a situação,
mesmo com a resistência do regime de Kiev.
Entre as dificuldades citadas pelo especialista, estão a garantia permanente de não adesão da Ucrânia à
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), principalmente por conta dos "curadores europeus" de Kiev, como França e Reino Unido, que "irão dificultar a
concretização de tal exigência russa".
O especialista ainda lembra que a "mobilização total e forçada" de cidadãos na Ucrânia
demonstra a vontade em seguir com o conflito até "o último ucraniano", o que seria mais um obstáculo para alcançar a paz duradoura na região. Outro ponto é a
continuidade do apoio militar à Ucrânia, principalmente pela Europa, isto porque, mesmo com a
nova postura do governo Trump, a ajuda ocidental ainda não cessou.
Para além da questão militar, o especialista lembra também a continuidade das
sanções contra a Rússia, que nesta nova rodada tem como foco a
frota de petroleiros de Moscou, principalmente no mar Báltico.
Outra das questões importantes para as negociações de paz, segundo Laterza, é o fim da perseguição jurídica ucraniana ao idioma russo e também à Igreja Ortodoxa Ucraniana filiada ao patriarcado de Moscou. "O regime de Kiev intensificou medidas punitivas e restritivas a tudo que seja culturalmente russo", diz.
Em seu discurso, o presidente Putin lembrou os
recentes acordos de cessar-fogo na Ucrânia, quando, apesar da iniciativa russa, só em relação à infraestrutura energética houve
mais de 130 violações pelo regime de Kiev. O jornalista e autor do livro "O povo esquecido: uma história de genocídio e resistência no Donbass", Eduardo Vasco, pontuou à Sputnik Brasil que as
"propostas da Ucrânia e da OTAN nunca são realmente sérias".
"Olhando em retrospectiva, podemos notar que algum tipo de proposta russa mais ousada já vinha sendo preparado há dois meses, porque primeiro Moscou suspendeu unilateralmente os ataques a instalações energéticas, entre março e abril; depois, o Kremlin propôs uma trégua de Páscoa, que a Ucrânia concordou; e, por último, o cessar-fogo do Dia da Vitória, ignorado por Kiev", destacou.
Para o especialista, as reuniões bilaterais de Putin em meio às
comemorações do Dia da Vitória também podem ter influenciado a proposta para a retomada da mesa de negociações com Kiev, principalmente os
presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da China, Xi Jinping.