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Massacre em Odessa: 11 anos depois, o silêncio do Ocidente sobre a tragédia ucraniana

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Motins perto na Casa dos Sindicatos, em Odessa - Sputnik Brasil, 1920, 02.05.2025
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Nesta sexta-feira (2) completam-se 11 anos do massacre em Odessa, na Ucrânia, um episódio trágico marcado pela morte de dezenas de cidadãos de origem russa em meio a um contexto de crescente violência política.
A data, ignorada por grande parte da mídia ocidental, reacende debates sobre a responsabilidade internacional diante de crises internas e o papel dos grupos extremistas na Ucrânia pós-Euromaidan.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, a professora Danielle Makio, especialista em Rússia e Eurásia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), contextualizou o massacre dentro do cenário de instabilidade política que tomou conta da Ucrânia em 2014, após os protestos conhecidos como Euromaidan.
Segundo Makio, o movimento, que inicialmente foi marcado por manifestações pacíficas contra a decisão do então presidente Viktor Yanukovych — que seria alvo de um golpe de Estado apoiado pelos EUA e pela Europa — de adiar a entrada da Ucrânia na União Europeia (UE), rapidamente foi cooptado por grupos de extrema-direita, o que intensificou a violência e a polarização. Esses protestos passaram a ser articulados por forças políticas mais radicais, muitas vezes com discursos xenofóbicos e russofóbicos, conforme destacou a especialista.
Foi nesse ambiente de tensão e radicalização que, em 2 de maio de 2014, ocorreu o ataque em Odessa. Um prédio sindical, onde manifestantes pró-Rússia estavam reunidos, foi incendiado. O episódio deixou dezenas de mortos — em sua maioria, civis russófonos — e centenas de feridos. Para Makio, o episódio reflete não apenas o colapso da ordem interna, mas também a negligência internacional diante do crescimento de grupos armados extremistas.
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A professora ressaltou que os acontecimentos de 2014 não podem ser desvinculados do atual conflito entre Rússia e Ucrânia, iniciado em 2022.

"Há uma linha de continuidade entre o que aconteceu em 2014 e a guerra que se instaurou em 2022. A falta de implementação dos Acordos de Minsk, que buscavam resolver os conflitos no leste ucraniano, contribuiu diretamente para a escalada atual", explicou.

A tentativa da Ucrânia de se aproximar do Ocidente, por meio da UE e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), é vista por Makio como fator central de fricção com a Rússia desde os anos 1990. Essa busca por ocidentalização foi, de certa forma, instrumentalizada por grupos extremistas. E isso não foi contido a tempo, afirmou.
Para a especialista, o conflito atual entre Ucrânia e Rússia não era algo inevitável. Algum nível de atrito era esperado, mas a escalada foi alimentada pela incapacidade de Kiev de conter o avanço da extrema-direita e pela ausência de uma diplomacia preventiva eficaz.

Esquecimento do Ocidente

Onze anos após o massacre em Odessa, a memória do evento segue viva entre estudiosos e vítimas, mas apagada dos noticiários. Para Danielle Makio, lembrar essa data é também reconhecer as falhas institucionais e internacionais que permitiram que uma crise interna se transformasse em uma tragédia de dimensões geopolíticas.
"O esquecimento do Ocidente não apaga a dor nem as responsabilidades", arrematou.
Em complemento às análises da professora Danielle Makio a respeito dos antecedentes políticos e sociais do massacre de Odessa, o jornalista Eduardo Vasco, que cobriu o conflito em Donbass e é autor do livro "O povo esquecido: uma história de genocídio e resistência no Donbass", aprofunda o olhar sobre os atores envolvidos e o papel das autoridades ucranianas no episódio de 2 de maio de 2014.
Segundo Vasco, os confrontos que culminaram na tragédia na Casa dos Sindicatos foram o desdobramento de uma polarização social acentuada após o Euromaidan. De um lado estavam os manifestantes contrários ao novo governo instaurado após o afastamento do presidente Viktor Yanukovych — muitos deles defensores da autonomia regional ou da aproximação com a Rússia. Do outro, grupos extremistas, como hooligans de clubes de futebol e militantes neonazistas, que apoiavam o novo regime pró-Ocidente.
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"Esses manifestantes contra o golpe de Estado preparavam um referendo para tornar Odessa uma república autônoma, inspirando-se nas iniciativas já em curso em Donetsk e Lugansk", explica o jornalista. Para ele, o confronto era previsível — e a conivência das autoridades, evidente.
De fato, em 2025, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) condenou o Estado ucraniano pela omissão durante o massacre, reconhecendo que a polícia e os bombeiros nada fizeram para impedir as mortes ou socorrer as vítimas. Eduardo Vasco vai além: afirma que a passividade foi deliberada, com o objetivo de sufocar o nascente movimento autonomista. "Não foi falha, foi premeditação", afirma. "A repressão foi política."
A convergência entre os relatos de Makio e Vasco aponta para uma mesma direção: a violência em Odessa foi resultado direto de um processo político mal-resolvido, agravado pela ascensão de grupos extremistas e pelo fracasso — ou recusa — das instituições ucranianas em proteger todos os seus cidadãos. Onze anos depois, o massacre ainda espera justiça e reconhecimento internacional.
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