Entre bandeiras dos Estados Unidos e do Brasil, apoiadores do ex-presidente saíram às ruas no último fim de semana em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador para criticar o STF e pedir a anistia dos envolvidos nos ataques do dia 8 de janeiro de 2023. Do alto do trio elétrico em Copacabana, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) fez uma chamada de vídeo com o pai, que não podia comparecer ao ato por conta das medidas cautelares determinadas por Moraes.
Mesmo assim, Bolsonaro falou aos manifestantes, e o vídeo foi compartilhado nas redes sociais de Flávio, mas retirado do ar depois. Essa foi uma das justificativas dadas pelo ministro do STF para determinar a prisão domiciliar do ex-presidente, que já usava tornozeleira eletrônica. Bolsonaro também estava impedido de sair de casa entre 19h00 e 06h00 e usar as mídias sociais direta ou indiretamente. Além disso, ele já havia sido advertido em 24 de julho sobre o descumprimento das medidas.
Para a cientista política e pesquisadora do Observatório Político Sul-Americano (OPSA) Beatriz Bandeira, a nova decisão de Moraes vai inflar ainda mais o bolsonarismo no país, pelo menos no curto prazo.
"Longe das redes sociais, Bolsonaro não pode falar abertamente sobre o caso, mas a decisão do Supremo pode inflar a participação de aliados, como Nikolas Ferreira e o próprio Eduardo Bolsonaro", afirma à Sputnik Brasil.
Conforme a especialista, os aliados do ex-presidente vão pressionar ainda mais o Judiciário, com o objetivo de manter o "cenário político extremamente instável e a base de apoio mobilizada", o que também contribui para manter a imagem de Bolsonaro presente na mídia e acirrar a polarização no Brasil.
"Contudo, essa estratégia pode não se sustentar no longo prazo. O tarifaço de Trump como resposta às decisões do Judiciário, visto como ataque à soberania brasileira, já se levanta como um contraponto a essa narrativa. É um cabo de guerra que tende a desestabilizar as instituições brasileiras", acrescenta.
Narrativa de perseguição pode aumentar?
Diante da participação indireta de Bolsonaro no ato em Copacabana, o ex-presidente voltou a infringir a determinação de Moraes de afastamento total das redes sociais, incluindo em perfis de filhos e de aliados. A cientista política vê as declarações como uma "tentativa velada de driblar a medida cautelar".
"De modo geral, a estratégia dos bolsonaristas tem sido a de inflar a narrativa de que Bolsonaro está sendo perseguido por Moraes e de que o ministro tem violado a sua liberdade de expressão. A aparição pública de Bolsonaro mostrando a tornozeleira eletrônica, as falas nas redes sociais, todas essas ações foram tomadas com o intuito de chantagear e aumentar a pressão sobre o STF", explica.
Tarifaço e defesa de Trump ao ex-presidente
A prisão domiciliar de Bolsonaro acontece em meio às negociações do Brasil com o governo do presidente norte-americano, Donald Trump, sobre as tarifas de importação de produtos do país de 50%, que entram em vigor nesta semana. No decreto, Trump voltou a citar uma suposta perseguição judicial contra o ex-presidente e, para a especialista, esse novo capítulo pode levar a novas medidas de Washington, incluindo contra Moraes.
"Na esfera internacional, o governo dos Estados Unidos pode anunciar novas medidas restritivas e atos de constrangimento das autoridades brasileiras, na mesma direção da aplicação Lei Magnitsky, embora o recuo de Trump [ao isentar mais de 700 produtos da tarifa] mostre que ele não está tão disposto assim a comprar briga com setores econômicos que dependem das exportações brasileiras."
Reações à prisão no Congresso Nacional
Os aliados políticos do ex-presidente planejam, ainda, uma reunião de emergência na próxima terça-feira (5) para discutir a reação do grupo à prisão do ex-presidente. Entre elas, estão pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a pautar o projeto de anistia, e, no Senado, fazer com que o impeachment de Moraes seja pautado.
"Bolsonaro é alvo de um processo baseado em uma única delação premiada e tem sua liberdade cerceada por crime de opinião. Não aceitaremos mais esse Estado de exceção. Conclamamos todos os senadores da República a honrarem seus mandatos. Basta de arbítrio. Fora, Alexandre de Moraes", declarou o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN).
Porém, a pesquisadora Beatriz Bandeira acredita que essa ainda é uma possibilidade distante. "Quanto ao impeachment, é algo que ainda está na dimensão do discurso, pois os bolsonaristas não dispõem de apoio político suficiente para tentar algo nessa escala", finalizou.