Em entrevista à agência Reuters, Lula disse que não há intenção clara de abertura de diálogo com o mandatário norte-americano.
"Pode ter certeza de uma coisa: o dia em que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar", declarou Lula.
Segundo o presidente, a intenção é debater o tarifaço com o BRICS — grupo de países em desenvolvimento do qual o Brasil faz parte, junto com a China, a Rússia e a Índia, dentre outros.
Segundo o líder brasileiro, o principal entrave em resolver a questão das tarifas é a interlocução com as contrapartes estadunidenses. "Não liguei porque ele não quer telefonema."
Durante a entrevista, Lula destacou as ações que o governo federal tem empreendido para combater as tarifas, como o diálogo com as companhias brasileiras, a salvaguarda dos empregos brasileiros, a busca por novos mercados e o contato com os importadores norte-americanos, para que também pressionem a Casa Branca.
"Veja que faço tudo isso quando poderia anunciar uma taxação nos produtos americanos. Não vou fazer porque não quero ter o mesmo comportamento que o presidente Trump."
Segundo o presidente, a forma civilizada de dois chefes de Estado negociarem seria em uma comunicação prévia, seja por ligações ou negociações. "Mas nós recebemos o comunicado da taxação de forma totalmente autoritária."
"E não é assim que estamos acostumados a negociar. Mesmo neste momento, temos muita gente no Brasil tentando conversar com os americanos."
Segundo Lula, as atitudes "destemperadas" de Trump não podem pôr em risco o histórico diplomático de 201 anos entre Brasil e Estados Unidos.
Trump quer acabar com o multilateralismo
Equiparando o multilateralismo com o movimento sindical, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que seu homólogo americano, Donald Trump, quer impor um mundo unipolar. "O que o presidente Trump está fazendo é tácito, ele quer acabar com o multilateralismo."
Para Lula, assim como um empregado não tem poder suficiente para negociar com a empresa, um país pequeno sozinho não é capaz de negociar frente os Estados Unidos.
"Ele quer criar o unilateralismo em que ele, sozinho, com outro país. Então qual o poder de negociação que tem um país pequeno contra os EUA? Nenhum."
Lula quer união do BRICS para resposta às tarifas
O líder brasileiro afirmou que conversará com os líderes da China, Xi Jinping, e da Índia, Narendra Modi, para responder conjuntamente ao tarifaço dos EUA, em nome do BRICS.
"Vou tentar fazer uma discussão com eles sobre como é que cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão."
Assim como o Brasil, que foi taxado em 50%, a Índia foi impactada por tarifas de Washington. Segundo o governo norte-americano, a justificativa é a importação indiana de produtos da Rússia.