Panorama internacional

Tensão entre Brasil e Israel demonstra que país deve diversificar parceiros na defesa, diz analista

Durante a conferência sobre a solução de dois Estados da Organização das Nações Unidas (ONU), na semana passada, o Brasil deu um passo para endurecer medidas contra Israel. À Sputnik Brasil, analistas advertiram sobre o futuro das relações bilaterais entre os países, sobretudo no âmbito da defesa.
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Em discurso, o chanceler Mauro Vieira anunciou que o Brasil sancionaria o país, responsabilizando-o pelo genocídio na Faixa de Gaza. Entre as restrições, a suspensão imediata de exportações brasileiras de equipamentos militares para Israel; o endurecimento da fiscalização de importações oriundas de assentamentos israelenses ilegais na Cisjordânia ocupada; e o apoio formal do Brasil à denúncia de genocídio apresentada pela África do Sul à Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia.
No ano passado, o governo brasileiro protagonizou um imbróglio envolvendo a compra de blindados para o Exército brasileiro vindos da empresa israelense Elbit Systems. A transação dizia respeito à compra de 36 viaturas blindadas de combate conhecidas como obuseiros. Na ocasião, o Exército decidiu pela compra dos armamentos, que totalizaram quase R$ 1 bilhão.
Segundo uma fonte ouvida pela Sputnik Brasil, que pediu para não se identificar, o contrato atualmente está suspenso. Do ponto de vista de custo-benefício, ele "é o melhor material de artilharia que pode ser comprado no momento", disse a fonte, que afirmou que o Exército aguarda que as tensões entre os governos cessem para poder receber o material.
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Situação demonstra que o Brasil deve variar os parceiros de defesa?

De acordo com o especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil Robinson Farinazzo, Israel é um parceiro bastante delicado para a indústria de defesa do Brasil no momento.

"Israel não apenas tem o problema da ingerência norte-americana, como também um comprometimento com uma grande guerra, e eu não sei se eles vão conseguir cumprir os prazos que o Brasil vai determinar para a compra de insumos militares", atenta.

Em relação à variação de parceiros comerciais no âmbito da defesa, o analista sugere que o Brasil deve levá-la adiante, com Rússia e China despontando naturalmente para ocupar o lugar de Tel Aviv, além de Turquia e Coreia do Sul, que dispõem de boas indústrias de defesa. Entretanto Farinazzo chama a atenção para o olhar brasileiro a outros parceiros dentro do BRICS.

"Nós não podemos esquecer também dois países do BRICS que são importantíssimos e têm uma indústria de defesa muito boa, que são a África do Sul e a Índia", afirma.

Outra solução sugerida pelo oficial da reserva seria adquirir um projeto de obuseiro no exterior e fabricá-lo localmente através da Avibras ou até mesmo da Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel).
Conforme a outra fonte ouvida pela Spuntik Brasil, o país já busca diversificar seus parceiros no mercado global de defesa, mas não há um desejo de sair do tipo de equipamento padrão Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), "pelo uso histórico e contínuo de material de países da aliança".
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Impasse com Israel pode gerar novas tensões com a oposição?

Embora a oposição ao governo no Congresso seja a favor de Israel e possa usar isso como mais um elemento para a realização de ataques, o analista que preferiu não se identificar acredita que isso não deve acontecer, uma vez que "questões de defesa não agitam a disputa partidária".
Dentro dessa confusão, há quem peça a saída do ministro da Defesa, José Mucio. Para Farinazzo, contudo, não há percalços ou processo de fritura, e o titular entende que o processo de compra de armas é uma questão política.
O outro especialista acredita que o episódio com Israel não isola o ministro, mas o cansa.

"Desde o início do governo, há grande animosidade contra ele por parte do PT, que o considera 'amigo demais' dos militares e que ele teria impedido punições mais duras depois dos eventos do 8 de Janeiro. Logo, aqui deve ser entendido que existe uma discordância clara no governo sobre objetivos de defesa nacional, ou seja, o Planalto não entende que demandas de defesa sejam tão prioritárias assim, enquanto a realidade geopolítica diz o contrário."

Por fim, a fonte ressalta que entende que "o governo não entende a defesa como prioridade" e que a agenda só deve mudar "quando ela se aliar com as opções ideológicas dele [governo], mesmo que seja em prejuízo dos militares, o que, em um contexto de mundo mais inseguro, acaba sendo uma tragédia".
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