O
Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) divulgou, no fim do último mês, que o número de feridos e mortos a partir do
lançamento de objetos explosivos na Colômbia cresceu 342% nos cinco primeiros meses de 2025, em comparação ao mesmo período do ano passado. De acordo com a organização, são
137 vítimas nesses ataques, muitos deles realizados a partir de drones.
Essas ações foram creditadas a quadrilhas de narcotraficantes e a outros grupos armados, como o Exército da Libertação Nacional (ELN), e, segundo a CICV, encaminham o povo colombiano ao "pior ano da última década em consequências humanitárias".
O uso de drones civis — que antes tinham como função gravar paisagens ou fazer manobras —, em contexto militar,
ganhou popularidade nas mãos da Ucrânia como alternativa no combate às forças russas durante a
operação militar especial.
Especialistas entrevistados pela Sputnik Brasil explicaram que organizações criminosas da Colômbia podem ter se inspirado no modelo de combate de Kiev e, inclusive, encontrado tutoriais na Internet para adaptar esses drones como dispositivos bélicos.
O professor de geopolítica da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) Vinicius Teixeira conta que sequer é preciso comprar um drone pronto, sendo possível construir o veículo a partir de impressoras 3D. O especialista destaca que não há como evitar que modelos prontos para impressão, por exemplo, caiam nas mãos de criminosos, e esses veículos, posteriormente, sejam usados para atacar civis e militares.
Teixeira ressalta que, além de membros da ELN, existem acusações de ataques com drones realizados por ex-integrantes das
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Para o professor, também há o receio de que
mercenários colombianos, que eventualmente retornarão da Ucrânia, dominem esses dispositivos para atentados.
O professor titular de relações internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Williams Gonçalves conta que mercenários se capacitam durante ações militares como na Ucrânia e, inevitavelmente, carregam consigo o conhecimento adquirido em campo.
Gonçalves ressalta que os ataques com drones não são exclusividade das organizações criminosas colombianas, mas também feitos pelas forças de segurança do país na luta contra esses grupos.
Não demorou muito para que o drone se tornasse dispositivo indispensável de traficantes brasileiros. Além de ataques a facções rivais, criminosos também aproveitam a mobilidade e o baixo ruído dos veículos para, por exemplo, lançar celulares e drogas em presídios.
Como toda ação gera uma reação, também era questão de tempo para que as organizações criminosas passassem a usar dispositivos para bloquear os sinais de drones rivais. A Polícia Militar do Rio de Janeiro, inclusive, apreendeu no mês de junho um equipamento desse tipo com o logotipo das Forças Armadas da Ucrânia na comunidade de Acari, Zona Norte da cidade.
Teixeira alerta que as
autoridades brasileiras devem se precaver em relação ao desvio de tecnologias de guerra, como o aparelho antidrone. Para isso, na visão do especialista, é necessário
investir em inteligência.
"O que acho mais viável, é lógico que não é o mais barato, mas certamente o investimento em inteligência, nas formas de utilização, rastreio das operações desses grupos [criminosos]. Saber por onde se equipam, como vai chegar nas mãos deles e quem opera. A inteligência certamente vai ser o meio mais eficaz para coibir a utilização desses equipamentos."
Assim como Teixeira, Gonçalves entende que é preciso encontrar quem usa drones para ações maliciosas, uma vez que é impossível coibir a circulação do equipamento.