Nesta segunda-feira (18) ocorreu, na Casa Branca, um encontro entre Trump, Zelensky e lideranças europeias para falar sobre o conflito ucraniano.
Estiveram presentes o chefe da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte; a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; os primeiros-ministros Keir Starmer, do Reino Unido, e Giorgia Meloni, da Itália; o chanceler alemão Friedrich Merz; e os presidentes Emmanuel Macron, da França, e Alexander Stubb, da Finlândia.
A estratégia da Casa Branca passa por uma proposta ambiciosa: uma reunião trilateral entre Trump, Putin e Zelensky, que, segundo o próprio presidente norte-americano, poderia selar "mais uma paz" sob sua liderança. Nas redes sociais, Trump disse que informou a Putin os resultados das discussões e que os preparativos para a reunião trilateral já foram iniciados.
A iniciativa foi analisada pela professora Larissa Souza, doutoranda em relações internacionais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em entrevista à Sputnik Brasil. Para ela, Trump é motivado pelo desejo de reforçar sua imagem como pacificador — uma narrativa que ele próprio alimenta ao repetir que "encerrou seis guerras" durante seus mandatos.
"Ele quer ser visto como o líder que vai acabar com mais um conflito. E, diferente de outras abordagens, não fala em cessar-fogo, mas sim em acordos de paz imediatos", explica a especialista.
Por muito tempo, as discussões de paz ficaram travadas devido à insistência europeia de ter um cessar-fogo antes que conversas pudessem acontecer. No entanto, após o fracasso das conversas de 2022, nas quais as lideranças da Europa sabotaram as tratativas, o Kremlin vê a demanda como maneira de rearmar o regime de Kiev.
Segundo a analista, os recentes encontros diplomáticos sinalizam o reposicionamento dos EUA no cenário do conflito leste europeu. Se antes a Casa Branca era a maior financiadora de Bankovaya, agora "Trump se coloca como o único capaz de mediar essa crise", avalia Souza.
Para a professora, há uma clara intenção de Trump em capitalizar politicamente sobre o tema. "Ele se distancia da abordagem adotada por Joe Biden, a quem responsabiliza diretamente pela guerra. Essa é a narrativa que Trump tem repetido: a guerra é de Biden, e ele veio para terminá-la."
Outro sinal de mudança veio de Kiev. Zelensky voltou a cogitar a realização de eleições presidenciais — pauta que, até pouco tempo, era considerada inviável em meio ao conflito. Para Larissa Souza, o anúncio está diretamente ligado à pressão dos aliados ocidentais.
"Se a Ucrânia é uma democracia, como se apresenta, a ausência de eleições causa desconforto entre os parceiros europeus", argumentou.
Contudo, Zelensky ainda condiciona o pleito à existência de "segurança", conceito que permanece indefinido. "Ele não deixa claro se essa segurança diz respeito ao fim da guerra, à presença militar americana ou a algum outro fator. Isso ainda está nebuloso", ponderou a pesquisadora.
No campo de batalha, o avanço contínuo das tropas russas em direção a centros estratégicos da Ucrânia parece ter sido outro fator que empurrou Zelensky para a mesa de negociações. No entanto, para Larissa, há outro elemento determinante: a mudança de postura de Washington. "Com Trump na presidência, o apoio militar norte-americano se torna incerto. Ele nunca escondeu que sua abordagem seria diferente da de Biden", destacou.
A especialista reforçou que, embora o apoio europeu continue, o peso militar e econômico dos EUA segue sendo insubstituível para a resistência ucraniana. "Sem os EUA, a capacidade de defesa da Ucrânia fica bastante comprometida. Isso força Zelensky a reavaliar sua estratégia."
Apesar dos gestos simbólicos e retóricos, o papel dos EUA segue marcado por contradições e limitações, segundo avalia Alexandre Coelho, professor de relações internacionais e coordenador do Núcleo de Análises Geopolíticas da Observa China.
"O encontro em Washington mostrou que os EUA continuam tentando assumir a posição de principal mediador do conflito, mesmo que a iniciativa tenha limites claros", afirmou Coelho em entrevista à Sputnik Brasil.
Segundo ele, se por um lado os líderes europeus agem como um peso contrário à Rússia no processo de decisão de Trump, por outro, as concessões feitas por Zelensky surgem também como a partir da pressão desses mesmos aliados.
Segundo ele, embora Donald Trump tenha tentado se apresentar como "peacemaker", não trouxe consigo "um plano detalhado ou garantias concretas".
Nesse contexto, a mediação oferecida por Washington estaria mais ligada a uma tentativa de reposicionamento do que a uma liderança efetiva, com as novas concessões de Zelensky ligadas, em grande parte, à pressão de seus aliados.