Panorama internacional

Credibilidade do SWIFT derreteu, diz ex-vice-presidente do banco do BRICS

Em entrevista, economista aponta que quebra da confiança no sistema ocidental levou países a buscar alternativas e abandonar o dólar, transacionando sempre que possível em moedas locais.
Sputnik
Criado para conectar instituições financeiras de diferentes países, facilitando a troca de informações e pagamentos, o sistema SWIFT foi usado durante muito tempo sem contestação.
Porém, nos últimos anos, o uso do SWIFT pelos EUA e por aliados europeus como instrumento político de pressão diplomática para sancionar países criou um problema de confiança no sistema, levando a discussões de alternativas, como aponta o economista Paulo Nogueira Batista Jr. em entrevista ao podcast Intriga Internacional, da Rádio Sputnik Brasil.
Ele destaca que os líderes do BRICS discutiram o tema durante a cúpula em Kazan, em 2024, e no Rio de Janeiro, em 2025.
"O que foi realmente endossado em Kazan pelos líderes não foi exatamente o BRICS Pay, e sim o BRICS Cross-Border Payment Initiative, BCPI. É o sistema transfronteiriço de pagamentos do BRICS, que seria justamente uma alternativa ao SWIFT, a alternativa que o BRICS criou para fazer sistemas de mensagem de liquidação transfronteiriça sem passar pelo SWIFT", afirma Nogueira, ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o chamado banco do BRICS.
Segundo o especialista, o processo de desdolarização é algo que já está em curso, e alternativas ao SWIFT são favoráveis porque o sistema ocidental perdeu credibilidade, algo que ele aponta ter sido agravado pelas "bravatas" do presidente norte-americano, Donald Trump.

"Os países estão transacionando, sempre que possível, nas suas moedas nacionais, bypassando o dólar. Os bancos centrais, temerosos de confiscos impostos pelos EUA e pelos europeus, estão comprando ouro, estão reduzindo suas aplicações em títulos do Tesouro americano."

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Ele afirma que, dentro do BRICS, Brasil, Rússia e Irã lideram a discussão da desdolarização, destacando que, no caso russo, esse posicionamento é natural por ser um dos países que mais sofreram "com as iniquidades e as violências do sistema ocidental, baseado no dólar". Já a China ele afirma ter uma posição mais cautelosa, por perceber que ainda há divisões sobre o tema no grupo.
A Índia é o país que mais resiste a medidas financeiras como a criação de uma moeda para transações entre os parceiros do grupo e a desdolarização. Segundo ele, essa resistência ocorre porque a Índia acreditava que mantinha uma relação especial com os EUA, crença que foi afetada pelas ações recentes de Trump, ameaçando tarifar o país caso não suspendesse a compra de petróleo russo.

"A Índia vinha bloqueando. Agora que essa relação especial se mostrou fictícia, fantasiosa, com os ataques violentos que sofreu nas mãos do Trump, pode ser que a Índia reflua para uma posição mais próxima de um BRICS coerente", avalia.

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O economista aponta que a expansão do BRICS é outra frente de difícil consenso no grupo, já que, quanto maior o grupo se torna, mais diversos são os interesses, por vezes até opostos. Segundo ele, esse foi o principal motivo que levou o Brasil a ser um dos mais resistentes à expansão.
"O número dobrou. Nós temos dez países-membros plenos, entraram Indonésia, Irã, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos […] [11 com a Arábia Saudita]… Se com cinco já era difícil, imagina com dez?"
Diante disso, ele defende mudanças na forma como algumas iniciativas, sobretudo monetárias e financeiras, são tomadas, flexibilizando a regra do consenso.

"Trabalhar com uma coligação de países dispostos a começar. Então, digamos que todos sejam de acordo, menos a Índia. Não tem problema, a Índia não entra na primeira etapa da iniciativa, entra depois, quando mudar de ideia, se quiser mudar de ideia. Acho que esse é o caminho."

Ele afirma que esse desafio é aprofundado pelo interesse que o grupo desperta, com cada vez mais países querendo fazer parte.
"Há uma vontade muito grande de entrar no BRICS. Palestina acabou de pedir entrada no grupo há poucos dias, é um país que a gente não vai poder recusar, por motivos óbvios […]. Nós temos essa opção de, como o país quer entrar, mas não queremos de imediato ampliar o grupo mais, nós acolhemos como países parceiros. […] Já são dez países parceiros junto com os dez membros plenos."
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