Entre as espécies havia renas, raposas-do-ártico, baleias e aves marinhas. Os resultados do estudo, publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), revelam o conjunto faunístico mais antigo e bem preservado já encontrado no Ártico europeu.
"Isso é extremamente raro e valioso. A maioria dos vestígios de vida da Era Glacial na Escandinávia foi apagada quando as geleiras avançaram e desnudaram a terra. Esses sedimentos de cavernas são uma exceção notável", afirmou Sanne Boessenkool, professora de biologia evolutiva da Universidade de Oslo e coautora da pesquisa.
No total, os pesquisadores identificaram 23 espécies de aves, 13 de mamíferos, dez de peixes e diversos invertebrados e plantas, algo inédito na região.
A chamada Caverna Arne Qvam, parte do sistema cárstico de Storsteinhola, foi descoberta por acaso nos anos 1990 durante obras de uma empresa de cimento. Mas apenas entre 2021 e 2022 ocorreu uma escavação completa, liderada por Trond Klungseth Lodoen, do Museu Universitário de Bergen. A equipe recuperou milhares de fragmentos ósseos de uma fase mais amena da Idade do Gelo, preservados graças à altitude e ao sistema de drenagem da caverna. Entre os achados estão ossos de ursos-polares, morsas, focas, renas, baleias-azuis e peixes de águas frias como bacalhau e peixe-vermelho.
"O mais empolgante é o panorama geral. Temos um vislumbre de um ecossistema completo da Era Glacial — uma mistura de tundra, gelo marinho e águas abertas — sobre o qual quase não sabíamos nada antes", diz Boessenkool.
Grande parte dos ossos estava fragmentada em pedaços milimétricos, exigindo técnicas modernas de DNA antigo para identificação.
"Usamos o metabarcoding, que detecta pequenas sequências genéticas e as compara com bancos de dados", explicou Boessenkool.
Isso permitiu reconhecer espécies que jamais poderiam ser identificadas apenas pela morfologia.
As análises genéticas mostraram que várias das espécies pertenciam a linhagens hoje extintas, incluindo a raposa-do-ártico e o urso-polar da época.
Segundo Boessenkool, a descoberta oferece "uma janela para o passado e uma lição para o futuro": compreender como as espécies árticas reagiram às mudanças climáticas do passado ajuda a prever como a fauna atual poderá enfrentar o aquecimento acelerado que hoje transforma o Norte.