Segundo o Itamaraty, o chanceler brasileiro compartilhou com o secretário de Estado americano o
andamento das discussões das equipes técnicas até agora, sintetizadas em uma proposta de negociação oficial enviada pelo Brasil no último dia 4.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil afirmou também que ambos querem fazer um
novo encontro presencial para discutir o atual estágio do debate.
Mesmo que rápido, o encontro indica uma propensão a ajustes nas tratativas de um acordo mais consolidado, avalia Ana Caroline Sampaio, economista e coordenadora de projetos especiais do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), da Prefeitura do Rio de Janeiro, à Sputnik Brasil.
Ela lembra que, antes mesmo de as tarifas de 50% entrarem em vigor, os Estados Unidos já haviam isentado cerca de 700 produtos, como fertilizantes, aeronaves e minérios.
Nesse sentido, o documento enviado pelo Itamaraty na semana passada é um exemplo do avanço dessas tratativas com o corpo técnico dos Estados Unidos para alcançar um acordo. Ainda assim, é difícil cravar um momento para o fim do tarifaço, opina, uma vez que o texto brasileiro ainda vai passar pelo crivo dos técnicos norte-americanos.
Entretanto, para a professora de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Denilde Oliveira Holzhacker, o breve encontro sinaliza uma clara postergação, por parte dos Estados Unidos, do processo de negociações bilaterais com o Brasil.
Para ela, a fala de ontem (11) do presidente Donald Trump à
emissora Fox News, de que
pretende baixar tarifas do café e de outros produtos que impactam diretamente no custo de vida dos cidadãos estadunidenses, é
uma decisão unilateral.
"Essa é uma das questões que têm impactado na popularidade e também no desempenho eleitoral", explica a especialista à reportagem.
A mudança de conjuntura do governo americano pode ser benéfica em alguma medida para o Brasil, avaliou a professora, mas deve ser interpretada com cautela, pois os pontos mais complexos ainda não avançaram.
Um dos pontos complexos da relação bilateral Brasil-EUA, diz a especialista, é a questão da Venezuela. O país sul-americano entrou na mira de Trump em sua cruzada contra supostos narcoterroristas que transportam drogas para o território norte-americano através do mar do Caribe.
Na semana passada, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, declarou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita que qualquer conflito na América do Sul teria impacto direto sobre o Brasil e que as recentes manobras militares norte-americanas são motivo de atenção.