"Não que isso não tenha acontecido em outros momentos, mas é uma reafirmação da tentativa desses países, particularmente do BRICS, de se colocar como um polo de nações que consiga alterar o ordenamento internacional para além de temas tradicionalmente tratados, como segurança, comércio e economia, mas outros bem atuais, a exemplo da crise climática e a governança sobre a inteligência artificial", explica.
EUA e a tentativa de esvaziar espaços políticos
"O que se tem no governo Trump é, de fato, uma tendência de não só reforçar um unilateralismo, como durante o governo [George W.] Bush, mas de tentar forçar as negociações internacionais, se é que podemos chamar disso, na base da força bruta e no convencimento de um lado só. E isso acaba buscando esvaziar espaços políticos importantes, não só a COP ou o G20, mas instituições multilaterais, como temos visto na Unesco, OMS [Organização Mundial de Saúde] e o próprio Acordo de Paris", cita, ao exemplificar também o caso das tarifas de importação que foram marca da gestão nos últimos meses.
"Essas questões que são tradicionalmente tratadas pelas potências médias certamente vão ter muita oposição por parte do governo norte-americano. Por outro lado, talvez teremos a tentativa de tratar de temas como comércio internacional, para buscar legitimar as barreiras que o país tem colocado, principalmente nas disputas com a China. Me parece que esse é o principal campo de disputa que está em jogo", afirma.